Neca Baldi (*)
Saber que uma tempestade ou qualquer outro fenômeno meteorológico se aproxima, colocando sua vida e a de tantas outras em risco, permite minimamente que as pessoas tentem se proteger. A partir daí muitas dúvidas e angústias tomam conta e faz-se necessário a tomada de decisões que supostamente irão permitir ou favorecer uma saída estratégica.
Laura Patron, ou apenas Lau, como costuma se nomear, não recebeu nenhum alerta. Foi tomada por um tsunami que virou sua vida de cabeça para baixo.
Seu filho, João Vicente, até então saudável e cheio de vida, depois de um domingo lindo no parque com os pais e amigos, sofre um AVC. Tem seu corpo colapsado. Vai para UTI, recebe um diagnóstico de doença rara e ali permanece durante 71 dias.
Sabe aquela expressão matar um leão por dia? Foi o que Laura viveu.
Uma rajada de sentimentos contraditórios, medo, dúvidas, angústias e muita dor estiveram colados nela o tempo todo. Estava rodeada de médicos, enfermeiras, atendentes, pacientes, familiares, mas sentia-se só.
Sua opção foi pela vida. Gritou a seu modo e decidiu que, enquanto o coração de seu filho batesse, lutaria. Não ia se entregar. Não ia permitir, a quem quer que fosse, desistir de lutar e de agir pela vida de seu filho.
Laura escreveu e a palavra a salvou.
Seu livro, 71 Leões, de fato causa espasmos, dor e angústia. Tive que parar a leitura compulsiva quando percebi que a enxaqueca estava me tomando.
Seu livro é um alento.
A tragédia que não foi anunciada, foi vencida por ela. Por uma mãe. Por uma leoa. Por uma mulher gigante!
João Vicente está aí, vencendo uma batalha por dia.
Não teve tempo ruim. A conexão e o amor entre eles o salvou. Foi maior. Foi arrebatador!
71 leões me possuiu. A fragilidade que me tomou também me fortaleceu.
Somos nada, somos tudo! Somos o que conseguimos ser.
(*) Diretora da Escola Projeto.
Foto: Giselle Sauer