André Moreira Cunha (*)
Eu e minha esposa temos dois filhos, João Pedro, de quinze anos, que fez a pré-escola e parte do ensino fundamental na Projeto, e o Guilherme, com dez, e que se forma neste ano. Para nós foi muito fácil decidir a escola onde passariam os primeiros anos de vida escolar. Já tínhamos boas referências da Projeto e rapidamente fomos inseridos em sua vida, sempre acolhedora e rica em vivências. Procuramos acompanhar de perto o seu dia a dia, nas atividades escolares e extraescolares dos meninos e nas inúmeras conversas com os outros pais e professores. Percebemos, desde o início, que a Projeto é marcada pela coerência entre o seu discurso, que revela um projeto pedagógico consistente, e a sua prática cotidiana. E isso é algo cada vez mais raro. Compreendemos a capacidade de sua equipe de professoras e orientadoras pedagógicas em trabalhar a construção do conhecimento de uma forma lúdica e, ao mesmo tempo, sólida.
Vimos crianças curiosas, capazes de formular raciocínios que sempre nos surpreendiam pela liberdade criativa na busca de caminhos alternativos para a solução dos mais diversos problemas. O aprendizado convertido em prazer e o erro entendido como uma oportunidade de avançar no conhecimento.
Como cientista e professor aprendi que aquilo que o senso comum costuma apontar como “erros” ou “falhas” são, via de regra, elementos constitutivos do processo de busca de soluções. Estas, por sua vez, podem gerar novo conhecimento. Sem os “erros” não haveria progresso em nenhuma área do saber humano. É muito fácil suprimir a curiosidade de uma criança e o seu desejo de construir hipóteses e métodos de aprendizado lá no início da vida escolar. Basta transformar o que é natural, a tentativa de acertar e os erros eventuais, em algo que é pesado e negativo. A Projeto tem, dentre suas inúmeras virtudes, a sabedoria de tornar os diversos caminhos propostos pelas crianças, “certos” ou não, em oportunidades de aprendizado.
No mundo da ciência, nenhuma verdade pode ser considerada definitiva e nem todo o erro é inútil. Pelo contrário, o olhar científico, que nasce da curiosidade permanente, reconhece que o “erro” é parte constitutiva do processo de construção do conhecimento. Esta perspectiva está impregnada no DNA da Projeto. Como nos ensinou Nico Nicolaiewsky, assim como “só cai quem voa, só quem tira os pés do chão”, só inova quem ousa ter liberdade criativa e aceita que errar faz parte do crescimento. A Projeto ajuda as nossas crianças a trilharem o percurso escolar com alegria e coragem para ousar, acertar, errar e ousar ainda mais.
Por isso é um dos mais queridos tesouros da nossa cidade. Um pouco de luz em um período de sombras.
(*) Economista e professor da UFRGS.