Beth Baldi (1)
Os Projetos de Trabalho são para a escola uma modalidade de ensino-aprendizagem, ou seja, uma forma de desenvolver os currículos escolares (aqueles que constam nas planilhas por grupo/série). Como um conjunto ou sequência de situações didáticas contextualizadas (no sentido, por exemplo, de que se lê e se escreve para algo, se estuda para algo) e que supõem resoluções compartilhadas e coletivas desituações-problema, os projetos contemplam a participação e, de algum modo, o protagonismo dos estudantes, oportunizando que o conhecimento seja produzido de um modo mais envolvente, cooperativo e significativo.
São uma maneira de pensar o ensino e as aulas que têm uma estreita relação com os princípios construtivistas de aprendizagem adotados pela escola (2), já que não só permitem, mas propõem, ao longo de seu desenvolvimento, a exploração das ideias dos alunos em torno do objeto de conhecimento que é foco do projeto, a confrontação com os pares e com alguns modelos ou informações, a partir de problematizações propostas, e trabalhos cooperativos para se chegar a uma produção final, com aproximações sucessivas aos conhecimentos, sempre pensados em termos de conceitos, procedimentos e atitudes a serem aprendidos.
Os Projetos na escola variam quanto à dimensão (institucionais ou da escola inteira – os projetos coletivos, como costumam ser chamados -, de uma série ou turma), quanto ao tempo de duração, conforme a faixa etária dos alunos (projeto de curto ou médio prazo) e quanto à área de conhecimento ou linguagens (3), no caso do fundamental, e contemplando os campos de experiência, na educação infantil. Mas eles têm em comum um produto final previsto, ligado a propósitos comunicativos ou funcionais (voltados, o mais possível, a uma função social que dê sentido ao trabalho a ser desenvolvido), de preferência conhecido ou definido por todo o grupo, desde o início do trabalho. Da mesma forma têm propósitos didáticos (o que se pretende que os alunos aprendam) bem claros e restritos, quanto ao nível de aproximação do objeto de conhecimento a ser oportunizado aos alunos, no sentido de opções bem criteriosas, e não demasiadamente amplas, para que possam ser concretizados de fato e com a profundidade necessária, possibilitando relações entre as aprendizagens realizadas, bem como conexões com outras questões ou com a vida cotidiana.
O planejamento dos novos Projetos (ou a revisão dos que já fazem parte do acervo da escola) costuma acontecer em equipes de série ou grupos por faixa etária, sempre discutidos com a coordenação, que traz sugestões, questões e orientações. A partir de focos ou temas escolhidos pela equipe e coerentes com os planos de estudo e as planilhas curriculares (níveis de planejamentos mais abrangentes utilizados pela escola, os quais explicitam objetivos e conteúdos por etapa e ano escolar), são realizados os estudos e aprofundamentos necessários, que permitem aos professores elaborarem esquemas conceituais relativos ao assunto, estabelecerem relações entre os diversos aspectos envolvidos e formularem melhores perguntas, problematizações, propostas de atividades e intervenções aos seus alunos, tendo em vista os propósitos didáticos definidos.
E, então, é preciso que a equipe analise diferentes alternativas para encaminhar o trabalho, refletindo sobre vantagens e desvantagens de cada uma, levando em conta, por exemplo, materiais e tempo disponíveis, características das turmas, da faixa etária e da própria área de conhecimento, considerando sua estrutura e forma de pensar, ou de campos que são mobilizados de modo mais aprofundado. Logo, vem a descrição de como irá acontecer cada proposta através de sequências didáticas (4), coordenadas entre si, com encadeamento e progressão. Para isso, é essencial prever e detalhar as formas de abordagem a serem utilizadas a cada etapa – coletiva, pequenos grupos, duplas, individual –, os materiais e tecnologias que vão ser incluídos para oportunizar o acesso aos conteúdos, bem como as intervenções e formas de registros a serem realizadas ao longo do processo, dentre outros aspectos. Esse detalhamento oportuniza uma melhor organização por parte dos professores e, consequentemente, maior segurança em relação ao desenvolvimento do trabalho, bem como mais chance de se chegar aos resultados esperados, inclusive, por mais contraditório que pareça, com maior espaço para improvisos e maior abertura para a necessidade ou oportunidade de alterações, na medida em que se tem claros os objetivos. Isso reforça para nós o valor do planejamento, mesmo entendendo que os imprevistos e as mudanças de rumo fazem parte do cotidiano de uma sala de aula.
E, ainda, são previstos e realizados, ao longo de qualquer Projeto de Trabalho, momentos de sistematização das aprendizagens, bem como avaliações: inicial (o que já sabem os alunos, quais são suas referências e expectativas), formativa (o que estão aprendendo, como estão acompanhando o sentido do projeto) e final (o que aprenderam com as propostas e se são capazes de estabelecer novas relações). A avaliação formativa permite os ajustes necessários ao percurso de cada aluno, durante o desenvolvimento do trabalho, buscando garantir que suas aprendizagens aconteçam da forma mais significativa e efetiva possível. Nesse sentido, é organizada a recapitulação dos processos, através de dossiês, portfólios e álbuns do trabalho realizado, para que, tanto os professores, como os próprios alunos e suas famílias, possam visualizar esses percursos, dando-se conta do aprendido e buscando pensar com e para além dele.
(1) Diretora pedagógica da Projeto.
(2) Para saber mais, acesse o 1º texto sobre os pilares da Proposta da Escola Projeto, publicado dia 8/8 neste blog: http://escolaprojeto.g12.br/blog/2019/08/08/proposta-da-escola-projetoparte-1-esse-tal-de-construtivismo/
(3) Nossa opção tem sido, no ensino fundamental, pelo desenvolvimento de “Projetos por Área de Conhecimento”, fundamentada especialmente pelos trabalhos de pesquisadoras argentinas, como Delia Lerner, Mirta Castedo, Ana Espinoza, Ana Malajovich, Silvia Alderoqui, Adriana Serulnicoff e Beatriz Aisenberg, entre outras. O espanhol Fernando Hernández, que ficou bastante conhecido por suas publicações sobre o tema, tem influência no modo de pensar da escola, mas não é o referencial central para este trabalho. Assim, por exemplo, na Língua Portuguesa, que faz parte do componente curricular das Linguagens, de acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), organizamos Projetos de Leitura, de Escrita e de Oralidade; nas Artes, que também pertencem às Linguagens, os Projetos são de Artes Visuais, Teatro e Música, assim como de Educação Física e de Língua Inglesa; no componente das Ciências, são Projetos de Ciências da Natureza, Ciências Humanas e também relativos ao viés da Educação Ambiental. Na educação infantil, o trabalho vem sendo reorganizado a partir da ideia de “campos de experiências”, tendo em vista as orientações mais recentes da BNCC.
(4) Uma “sequência didática” é um conjunto de propostas coerentes entre si, que supõe objetivos mais específicos e uma descrição detalhada das atividades que a compõem, podendo, ou não, estar ligada a um Projeto. Como uma outra modalidade de organização e desenvolvimento do trabalho escolar, a adotamos, por exemplo, quando se trata da área de Matemática, que não está organizada por Projetos, mas em sequências didáticas (ex.: sequência de construção do número, de construção da operação tal etc., conforme os conteúdos a serem trabalhados).