Heloisa Prieto convida a escutar o mundo na 29ª Feira do Livro da Projeto
Sábado teve festa na Projeto. E os protagonistas do evento puderam fazer aquilo de que mais gostam: parar nas mãos das crianças e hipnotizá-las com suas histórias. Fora da estante, os livros, muitos, de todas as cores e formatos, tomaram conta da quadra da escola, na Unidade 1, a despeito do frio, do cinza do céu e dos tablets, celulares e outros concorrentes da moda. Na 29ª Feira do Livro da Escola Projeto, só teve um nome que conseguiu atrair mais atenção do que os títulos das 21 editoras participantes do evento. Pela segunda vez autora convidada da escola, Heloisa Prieto reuniu uma legião de fãs que fez a fila de autógrafos se arrastar até o interior da escola. Além de escrever incontáveis vezes “Um beijo, Heloisa Prieto”nos livros adquiridos durante a feira e autografados ao longo de mais de quatro horas, a escritora paulista saiu da Projeto admirada com o envolvimento que os alunos tiveram com o estudo de suas histórias.
– Fiquei impressionada com a profundidade da relação deles como o trabalho. Parecia que eu estava na universidade com as perguntas que me fizeram. E dá pra ver que eram espontâneas – conta Heloisa, que, além de um encontro com os pais, professores, coordenação e direção da escola, teve um momento de conversa com os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental para tirar dúvidas e contar mais do seu processo de escrita.
Entre as perguntas que surgiram no bate-papo com os alunos, uma, em especial, deixou a escritora encantada:
– Uma criança me perguntou se algum dia, depois de o livro ficar pronto e ir para as livrarias, já havia desejado mudar alguma coisa da história. Achei uma questão excelente. Nunca ninguém havia me questionado isso. Respondi que não, que nunca tive vontade, mas sou uma exceção. Muitos colegas meus fazem mudanças nas edições – revela.
Envolvidos nas revisões de seus próprios textos em sala de aula, os alunos das turmas dos 2ºs anos expressaram sua curiosidade em saber se a autora fazia o mesmo com suas obras e perguntaram quantas vezes ela revisava seus textos.
– Fiquei impressionada. – destacou Heloisa, explicando que, além de ela revisar, ela conta com o apoio de um sócio, o jovem poeta Victor Scatolin, que lê seu material antes do envio para a editora, onde, a seguir, revisores profissionais também cuidam para que tudo saia de forma impecável.
Com mais de 50 obras lançadas, entre eles O Livro dos Medos e Lá Vem História, e dois Jabutis no currículo, um deles com Cidade dos deitados, uma curiosa história que se passa num cemitério, Heloisa faz questão de defender a literatura como espaço livre do politicamente correto.– O livro é o lugar mais controlado para a criança vivenciar sensações, medos e fantasias. Abrem, brincam e fecham. É um lugar onde entram e de onde saem. Em vez de se preocuparem com os livros, os pais deveriam prestar mais atenção nos videogames, filmes e jogos militaristas aos quais as crianças têm acesso. Porque, por mais incrível que pareça, quando perguntei para uma sequência de crianças do que elas tinham mais medo, seis delas me responderam que eram dos personagens dos videogames – conta.
Interessados nos autores que inspiraram Heloisa na sua vocação, a autora lembrou de um escritor que para ela é um grande exemplo de contador de histórias, Erico Verissimo. E foi surpreendida, logo depois da resposta, com uma vozinha na plateia com o peito estufado de orgulho dizendo que Erico era seu bisavô.
– Foi uma emoção para mim quando a menina me disse isso – pontua Heloisa, referindo-se a Lucinda, aluna do 2º ano.
Certa de que a literatura nasce antes dos livros, Heloisa faz um apelo às famílias em plena época de tecnologia:
– A literatura é o registro da experiência humana. Mas esse registro só ocorre se formos capazes de contar a nossa história. São as histórias que contamos das nossas vidas, do nascimento de um bebê, da escolha do nome, do mundo ao redor, que geram os livros. Hoje, você entra num restaurante, e as pessoas estão cada uma com um telefone à mesa, e ninguém está conversando. Se você só tem uma história pronta, vai perdendo a capacidade de narrar sua própria história. Por isso eu acredito em dois conceitos: um, da escuta da vida, de ouvir o mundo a sua volta, que é um conceito de Lacan, e dois, da inteligência poética, que vai dar sentido a isso – conclui.
Entrevista realizada pela jornalista Tatiana Cruz, no dia 30/5/2015
Fotos da Feira
Fotos capturadas pelo fotógrafo Carlos Edler
Trabalho de informática para Feira do Livro
Trabalhos inspirados no livro O livro dos pássaros mágicos, de Heloisa Prieto
Clique aqui e conheça os resultados e descobertas dos alunos.