Deborah Vier Fischer
Você já pensou em como anda a sua vida na escola? Que vida você tem levado para a sua sala de aula ou sala de trabalho? Você tem parado para escutar seus alunos e alunas? O que dizem? O que você faz com o que chega deles e delas? Você tem se escutado? Você é escutado? O que você tem cultivado junto à sua turma e junto ao seu espaço de trabalho?
São perguntas que tenho feito a professores(as), gestores(as) e a mim mesma, nos últimos tempos, em que curso um doutorado em educação, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e, simultaneamente, exerço a função de coordenadora geral na escola Projeto, na qual já atuo há vários anos nas mais diversas funções.
Vejo, neste momento e deste lugar em que me encontro, nítida diferença entre “dar aulas” e “viver aulas”. Quando damos aulas, nos colocamos no lugar de alguém que dá para o outro o que ele não tem, nesse caso, o conhecimento. Quando pensamos do ponto de vista de viver aulas, entendo que há mais chances de uma partilha, um compartilhamento, em que cada um traz o que tem, o seu momento em relação a determinado conhecimento, que em parceria com outros tantos conhecimentos e saberes, formais e não-formais, constituem um saber outro, mais refinado, mais cultivado e, portanto, mais significativo.
Olhar a escola no seu funcionamento por dentro, nas linhas maiores e menores que a regem, tem sido um movimento interessante, que me permite atuar em pelo menos duas frentes: do lugar de quem está na gestão, na tomada de decisões, garantindo que valores e princípios da escola se mantenham, e também do lugar de quem olha por fora e no fora do que está instituído, nas brechas, nos escapes a que nossos saberes, pedagógicos e outros, não conseguem capturar, nomear, normatizar. Refiro-me, especialmente, a falas, gestos e movimentos das crianças e dos adultos, no sentido de experimentarem e darem lugar também ao não planejado ou esperado, de se arriscarem a trazer e receber a vida, com lugar para a emoção e não só para a razão dentro da escola.
Assim, uma de nossas tarefas tem sido (re)pensar a escola para além da pura transmissão de saberes, deslocando-a de um modo moderno de pensamento para uma atitude contemporânea, o que significa, no meu ponto de vista, considerar a ideia de cultivar esses saberes por caminhos diversos, caminhos de encontros, em que culturas diferentes e modos de pensar variados possam compor, quem sabe, outros campos de conhecimento, outras experiências de estar na escola.
Para isso, precisamos de docentes bem preparados, cuja formação inclua o trabalho com o desenvolvimento da sensibilidade, da empatia e da disponibilidade para habitar a escola, trazendo a ela, a cada dia, junto a seus alunos e alunas, algo que ainda não está, mas que pode vir a constituir, junto ao que já existe, um convite para que a vida pulse, cada vez mais, nesses espaços em que passamos tanto tempo de nossas vidas.