Celso Gutfreind: mais cigarra do que formiga
Para o psicanalista e escritor, a base de uma educação não está na tecnologia, no investimento, no multilinguismo
A proposta do mercado é clara. Algumas escolas acreditam que o futuro começa no presente. O presente oferece do bom e do melhor em novas tecnologias, instalações de excelência com a promessa de colocação profissional do futuro adulto. Professores poliglotas. As mensalidades são salgadas, mas há um furo como em qualquer coisa viva, como previra o compositor Tom Jobim que, provavelmente, não consta no currículo.
O furo é triste. Criança não precisa de novas tecnologias para se desenvolver e sim do velho apego. Sem pressa, sem pressão nem exigências prévias, tão bem definidas pelo psicanalista Serge Lebovici como um mandato transgeracional ou a expectativa que não leva em consideração o que há de mais sagrado em qualquer ser vivo: relações interpessoais, autonomia.
Não há resumo possível. Não há economia a ser feita no espaço lúdico que possa promover um encontro de “estar com” como disse outro psicanalista, o Daniel Stern.
A intenção é boa de ambas as partes. Os proponentes oferecem o melhor, investem materialmente, garantem o retorno. São empresários, querem lucrar, estão no seu direito. Os clientes, pais preocupados, pensam no futuro dos seus filhos, estão no seu dever. Mas tem o furo do Jobim. A base de uma educação não está na tecnologia, no investimento (material), no multilinguismo. Isto é consequência e, entre as causas, candidatam-se a acolhida com olho no olho, o espaço para brincar sem segundas intenções. Resume-se em uma só palavra: vínculo. E, como não há resumos, logo precisa de outra palavra: empatia e, como se vê, já não se pode resumir na máxima de oferecer todas as condições para que o seu filho tenha um belo escore no Enem, entre na melhor Universidade e seja um profissional bem-sucedido no Vale do Silício.
Não há resumo possível. Não há economia a ser feita no espaço lúdico que possa promover um encontro de “estar com” como disse outro psicanalista, o Daniel Stern. Estar com para olhar, tocar, brincar, acompanhar sem medo do futuro. Este virá para quem soube cantar no presente. É mais cigarra do que formiga. Com presença, com afeto, outras duas palavras que também se candidatam para um possível resumo.