A hora da Educação Física pode ser uma alegria para alguns – “Oba, tem futebol!” -, ou um tormento para outros, que não gostam de bate-bola ou jogos competitivos tradicionais. Certamente, se você puxar pela memória as lembranças da infância na escola, se sentirá identificado com uma dessas situações. Mas, na Projeto, quando o professor Márcio Neves se aproxima da porta da sala de aula e se anuncia numa batida que virou marca dele nesses 21 anos em que leciona aqui na escola, a reação de entusiasmo é geral. Afinal, a Educação Física aqui na Projeto não é sinônimo apenas de gol, vôlei ou basquete no pátio. Atividades lúdicas de expressão corporal e jogos de cooperação são algumas das práticas que englobam uma educação física voltada para a inclusão e o desenvolvimento completo do ser humano, com lições que vão muito além de ganhar medalha ou ser o artilheiro do campeonato. Vem acompanhar aqui:
Cooperação: trabalhada em sala de aula por meio de brincadeiras e jogos com desafios cooperativos, essa habilidade passa pela criação de soluções em grupo, pelo debate e pela troca de ideias. Um exemplo é o do jogo com lençol, em que cada grupo o utiliza, em conjunto, para alcançar o objetivo combinado, que pode ser acertar a bola em uma cesta ou passá-la de um lado para o outro, para a outra equipe. E o mais desafiante: movimentando-se todos juntos, sem largar o lençol, buscando coordenar essa ação de modo a lançar a bola com a força e na direção desejadas. “É uma forma de mostrar que dependemos da atuação de todos e de cada um para que os objetivos sejam alcançados”, avalia Márcio
Expressão corporal: um aspecto importante de uma boa aula de Educação Física é o desenvolvimento pleno da expressão corporal. Para isso, Márcio usa ferramentas do teatro e da dança em suas atividades. “Eu fiz um curso de Expressão Corporal no Teatro para poder enriquecer esse trabalho com as crianças. Através de brincadeiras, eles montam grupos, escolhem músicas, trocam ideias e testam as possibilidades do corpo. O melhor é que, assim como na arte, não tem certo e errado, tem a consciência que a criança vai criando sobre o seu corpo”, diz. Outro modo de trabalhar a expressão corporal é a capoeira. “É experimentar um ritmo, perceber que existem outras formas de se movimentar que não necessariamente apenas o futebol ou o vôlei”, completa.
Cidadania: o que um jogo cooperativo, uma competição e uma coreografia conjunta podem ter a ver com cidadania? Tudo! E isso começa, segundo o professor Márcio, já no estabelecimento do regulamento dessas atividades. “É muito diferente você ter uma pessoa criando uma regra e aplicando para um grupo ou você ter um grupo formulando um conjunto de regras. E é esse cuidado que a gente procura ter nas aulas de Educação Física. O de convocar o grupo a pensar junto no regulamento ou mesmo revisar e alterar alguma combinação pré-existente”, revela. Permitir e garantir que todos, dos mais tímidos aos mais desinibidos, possam expressar opiniões sobre regras que vão vigorar no grande grupo é uma forma de exercício da cidadania, que começa numa simples aula de Educação Física, mesmo ela acontecendo numa turminha da educação infantil.
Resolução de conflitos: “O tempo todo questões éticas e morais se apresentam no exercício das aulas de Educação Física. É alguma injustiça apontada por uma criança, outra que burla uma regra ou algo mal resolvido no grupo. Nesses momentos, é preciso experimentar soluções que possam garantir o debate, o diálogo, e que priorizem o bem conviver”, conta Márcio.
Inclusão: o respeito à diversidade é outra regra de ouro na Educação Física. Na Projeto, a experiência da aula é pensada para contemplar diversos tipos de corpos e suas características específicas, integrando crianças que tenham alguma necessidade especial motora ou por cognitiva. “Até mesmo alguém que esteja passando por um mau momento, ganha um olhar de inclusão no jogo ou atividade, para que possa ser incluído em seu ritmo próprio. Às vezes, usamos a tática do ‘stop’, permitindo um tempo para que o colega se recoloque no ritmo da atividade. E quando essas situações se apresentam, não é só a criança com alguma necessidade especial que ganha, é o grupo todo. As crianças dentro desse processo inclusivo se tornam mais solidárias e tolerantes, desenvolvendo empatia. Eu já vi várias vezes essas crianças intervindo em situações de dificuldade de outra criança para que sejam contempladas no coletivo. E isso é lindo e relevante quando falamos na educação física diferenciada”.
De emocionar, né?