Rubem Penz
Proponho um rápido exame de consciência: você se sente mais confortável sendo o melhor entre os piores, ou o pior na turma dos melhores?
Escolhi estas duas posições porque ambas acomodam pessoas com desempenho um tanto acima da média (em qualquer idade, seja lá no que fizer ou onde esteja) e, na letra fria das percentagens, com performances muito parecidas, senão iguais. Porém, estar em um grupo ou em outro modificará radicalmente a atuação, quando não o grau de felicidade. Enfim, o que fará toda a diferença serão os traços de personalidade individuais.
Todos os que respondem melhor aos estímulos positivos – elogios, láureas, gratidão – tendem a preferir uma posição de destaque, mesmo ela circunstancialmente condicionada ao ranking menos elevado. Serão as mesmas pessoas para as quais a cobrança de melhor performance será quase paralisante: não lidam bem com a crítica, muito menos quando severa e reiterada. Por outro lado, há quem se acomode quando é festejado demais. Pior: comece a perder o interesse pois, sem desafios, não existe tesão.
Reforça minha tese o fato de que aquele cuja performance cresce diante da adversidade não só se sente bem no grupo de elite, como acaba se tornando crucial entre seus pares: seu grau de entrega para reverter eventuais limitações será contagiante. No fundo, nem mesmo ele se reconhece como capaz e, justamente por isso, supera-se. Vence. Ninguém compreenderá claramente o prazer de uma quase humilhação pública – sua mola propulsora. Afinal, cobranças com muito menos energia já serão suficientes para perder o engajamento daqueles que gostam de adulação. Talvez, até, para sempre.
E o que tem isso a ver com a escola? Tudo.
Professores – com P maiúsculo – têm uma escuta muito delicada sobre como cada um dos alunos responde aos estímulos de aprendizado e socialização. Sabem, ou intuem, a forma de manter o interesse das crianças e dos jovens. Constroem essa relação no dia a dia, observando e aprendendo a ensinar de modo personalizado. E nem sempre quem vê de fora – os pais, por exemplo – compreende os acordos e as dinâmicas que permeiam as relações. Isso decorre de uma falha quase inocente: imaginar que o bom para si servirá para o outro.
Proponho novo exame de consciência: você sabe realmente como seu filho responde aos estímulos, ou mede a reação dele por parâmetros seus?
Quanto mais longe da média, mais distantes ficamos da mediocridade. Seja o pior entre os melhores ou o melhor entre os piores, eu acho que o mais importante é sempre cutucar o aluno para melhorar.
Quando eu era estudante, a melhor posição (e a que me sentia melhor) é ser o pior entre os melhores. Pois isso, me dava “cutucadas” prazerosas no cérebro de melhorar o que já estava acima da média. Isso causa uma sensação de conforto.
Mas agora, tanto faz essa posição. Pois, o que me importa é melhorar sempre, independente dos outros. Atualmente, eu prefiro ser “cutucado” com o desconhecido, o que nunca foi explorado por ninguém.
Em outras palavras, quando os neurônios se sentirem confortável por muito tempo, dá um susto neles. Aí essa cambada de neurônios vagabundos vão acordar, tomar um banho gelado e se mexerem para melhorar. 🙂
Paulo Ricardo
Confesso que esta é uma ideia em que já me peguei pensando várias vezes! Que bacana esse texto e que bacana saber que os professores da Projeto estão atentos ao assunto. Nós, pais, nem sempre percebemos claramente em que grupo nossos filhos se enquadram. Em grupo, na sala de aula, é que isso melhor se revela.