Rubem Penz
Quando eu era criança, essa realidade era quase só vivenciada por filhos de militares e de corpo consular: mudanças constantes e para distantes cidades pelo Brasil e pelo mundo. Uma vida cigana, como se costumava falar. O fato infligia aos filhos, periodicamente, uma nova vizinhança, uma nova escola, uma nova turma. Colegas novos. Laços tênues por força da contingência. Hoje, muitas carreiras corporativas impõem para seus comandantes civis a mesma dose de sacrifício: ascender significa mover-se. Porém, há um agravante – os núcleos familiares diminuíram e, com isso, a solidão dos pequenos aumentou.
Pode parecer estranho falar do que não se tem solução: nem dá para dizer a um executivo (ou a uma, claro) “não vá”, nem dizer para a criança “não sofra”. Porém, é preciso lembrar aos pais que tais decisões afetam profundamente a vida dos filhos, especialmente quando a criança tem traços de personalidade mais introspectivos. Antes de partir, colocar na balança os pesos e contrapesos para auferir exatamente o que se ganha e o que se perde no processo. Serão sempre escolhas difíceis entre o ter e o ser, entre o ser e o estar, entre o estar e o bem (ou mal) estar. Mesmo assim, e opinando como leigo, há ditames de bom senso que podem ser contemplados.
Primeiro, imaginar que possa existir um equilíbrio necessário entre o plano de cumprir carreira e o plano de constituir família. Isso será possível somente quando, na balança, no prato da família, houver a plena consciência de que ao pequeno virá consequências difíceis de mensurar, e algumas podem não vir em seu benefício (apesar de parecer inatacável o horizonte de conhecer novos lugares e pessoas, ter conforto material). O filho é um sujeito completo. Sua voz, claro, não deve ser a mais importante. Mas desprezá-la completamente será uma temeridade.
Depois, e para o caso de a proposta ser irrecusável, investir muitíssima atenção na escolha da escola para a nova matrícula (mais ainda se acontecer em meio ao ano letivo). Olhar para o número de alunos por turma, para que a proposta pedagógica seja semelhante a que se está deixando, para a disposição de orientadores educacionais em equalizar as emoções com a rotina de estudos. Perguntar se há, ou houve, casos semelhantes e se informar de como a adaptação aconteceu. Ao cabo, durante os primeiros tempos, estar muito próximos e com a escuta bem atenta. Tanto quanto o possível transformar esta realização profissional em lembranças familiares “para deixar saudade”.
Por fim, ou melhor, no meio do processo, fazer de tudo para que essas idas e vindas não extraviem nada de muito valioso pelo caminho. O tempo, nele contido os experimentares da infância, não oferece bilhete de volta.
Delicado tema, muito bem abordado. Adorei o texto. Eu mesma vivi esta situação com meus filhos e apesar de toooodos cuidados me vi arrependida da mudança…