Rita Gomes Prieb (*)
A partir de fevereiro de 2020, profissionais dos hospitais, especialmente os que trabalhavam em UTIs (unidades de tratamento intensivo), aprenderam a lidar com um vírus desconhecido. Passaram a usar roupas de proteção, que exigiam um cuidado especial para colocá-las, mas, principalmente, para retirá-las. Tudo realizado num ritmo atento e cuidadoso, como mais um procedimento do dia a dia das UTIs.
Aprendemos que teríamos que nos aproximar dos pacientes apesar do medo, pois eles estavam mais assustados do que nós. Incorporamos tecnologias, como o uso de tablets e celulares para viabilizar visitas, encontros e por vezes despedidas também. Fizemos inclusive “super crachás”, para que os pacientes soubessem o sorriso que estava por trás de tamanha paramentação.
Mas não sabíamos que teríamos tanto tempo de hospitais lotados, plantões exaustivos e sobrecarga emocional. Precisamos lidar com perdas e dificuldades. Muitos afastados de suas famílias, com os filhos em casa tendo aulas através dos computadores, celulares e tablets. Os professores também precisaram se conectar com muita criatividade aos alunos (e quanta criatividade, hein!?…).
De certa forma compartilhamos da mesma tecnologia, com a mesma intenção: conectar afetos. Nós no hospital, conectando famílias, os professores buscando a conexão com as crianças, que também sofrem pelo distanciamento dos vínculos afetivos, a falta do cheiro da escola, do barulho das classes e da gritaria alegre dos pátios.
Eis que um projeto aproxima a todos: “Injeção de ânimo”! Quem diria que essa conexão seria tão intensa? Receber as mensagens das crianças foi algo muito marcante. O lúdico dando carona ao afeto mais genuíno: agradecimentos, poemas, imaginários das diferentes faixas etárias. Um sopro de esperança, uma injeção de afeto e reconhecimento.
Sinto que todos precisamos desses momentos, como pílulas de felicidade. O sorriso por trás das máscaras, as lágrimas que, por vezes, caíram dos profissionais serão momentos eternizados em nossas lembranças. A dureza dos dias abriu espaço para o movimento e a leveza que as escolas insistem em ter.
O que nos conectou? O afeto, as palavras, a linguagem, o desenho, a música. Foram muitas as manifestações, mas penso que a carta entregue de forma tão singular, presencialmente, trouxe à tona outros sentimentos que nos remeteram a proximidades que nos fazem tanta falta: receber e abrir as cartas foi como sermos levados aos sons, cheiros e vida que cabem e transbordam numa escola como a Projeto.
(*) Mãe do aluno Henrique, do 5º ano da escola.