Bruna Corrêa Meneghetti (**)
Das possibilidades de ser professora, a que mais me faz palpitar o coração é estar dentro de uma escola. O estar dentro de uma escola que me encanta vai além de circular pelo seu espaço físico ou entrar na sala de aula. São as vivências, as relações e os laços que se estabelecem que tornam a experiência significativa.
Parte dessa experiência é palpável, visível aos olhos e está fresquinha na lembrança, mesmo depois de tanto tempo sem vivenciar: são as conversas que preenchem os corredores, os encontros que proporcionam abraços, as brincadeiras que fazem sorrir. Alunos(as) e professores(as) que brincam, crescem, constroem, aprendem e se divertem juntos! Mas tem um outro tanto de experiências que é mais difícil de planejar ou prever, quando elas acontecem na sutileza dos dias, sem hora marcada ou expectativas. É quando, por um assunto ou situação, surge, inesperadamente, uma brincadeira, uma conversa, um jogo, uma descontração que envolve a turma e faz com que as urgências não sejam tão urgentes assim.
Dessas experiências a escola virtual tem aprendido a não abrir mão. Em 2021 o gancho que a turma 12 encontrou – e eu me incluo aqui, juntamente com o Gustavo – para “ah, o ditado fica para depois, né, profe?” ou ainda “a matemática pode esperar!”, foi brincar com os nomes. Começou assim: cada criança deveria separar um objeto cujo nome começasse com cada letra do seu próprio nome, e ordenar, primeiro da forma convencional e depois de trás para frente: “Mas, ô profe, e se agora a gente escrevesse, com as letras mesmo, o nosso nome de traz pra frente? Será que daria para ler?” Anele, Onurb, Aziul, Miuqaoj. Mal sabia eu que essa seria a pontinha do iceberg.
A brincadeira, que começou tímida, ganhou espaço e ganhou também os nossos corações. Os nomes invertidos, os nomes repetidos, os nomes malucos, não têm limite para a imaginação. Eu gosto mesmo de ver é quando, no meio de tantos quadradinhos e sorrisos, tem três Brunas Corrêa – nome e sobrenome ansiosos pela minha reação -, um Vicente e outro Visente, várias Martinas, Leonel e Leoneu, Bibiana ou Janela, tanto faz. Pode ser Elza, Aaaaa ou Camelo, Hello Kitty, Sereia ou “Gepardo”, o importante é mudar.
Ouvi um pai esses dias, naquele “furo” de microfone aberto, antes de ser censurado pelo filho: “O que é isso? Todo mundo de nome trocado? E a profe tá de bigode?”, seguido de uma longa gargalhada. Sim, nomes trocados e filtros do zoom, nosso escape. Nesse mesmo dia, em que as urgências ficaram para depois – e por depois entende-se outro dia -, um silêncio repentino fez com que dois cochichos falassem mais alto: “Essa aula tá muito boa!” e “Hoje é o melhor dia!”.
É, foi mesmo o melhor dia. E, se o meu cochicho escapasse pelo áudio, eu seria ouvida dizendo: “Não vou deixar as sutilezas da escola escaparem. Ainda teremos muitos melhores dias”.
(*) Texto escrito em abril de 2021, quando as aulas aconteciam ainda apenas no modo virtual. (**) Professora do 1º ano, turma 12, da Projeto.