Bruna Moraes Battistelli (* )
Escrevo este texto com uma certa preocupação: como ensinar sobre cuidado para as crianças em nossos tempos? Uma pergunta que me surge ao observar o movimento na calçada da escola no momento de buscar as crianças. Um dia desses contei onze adultos ao total e cinco dos mesmos já estavam com suas filhas e filhos. E o distanciamento? E a necessidade de não nos aglomerarmos? Notei que muitas(os) perguntavam para as crianças: você quer ir para casa ou ficar correndo aqui?
Assim, fico me questionando o que estamos ensinando às nossas crianças em termos de cuidado coletivo. Elas não podem se aglomerar na escola, muitas usam máscara a tarde toda, se cuidam e seguem protocolos de uma maneira muito cuidadosa. E, na hora de sair, nós, os adultos, colocamos todo o trabalho de cuidado ofertado pela escola em risco, pois ao escolher ficar aglomerado na calçada juntamente com outras pessoas (que inclusive passam sem máscara), escolhemos nos expor e expor as outras pessoas ao risco. Uma exposição que nos coloca em risco, coloca as crianças e as professoras. Nossas ações impactam outras pessoas! Lembremos disso…
Enquanto escrevo, fico pensando no que pensam as professoras que precisam trabalhar o dia de máscara sobre esse comportamento. São trabalhadoras que precisam gerenciar grupos de crianças e manter os cuidados para que o mínimo de distanciamento seja cumprido, para que os riscos para elas e para as crianças sejam diminuídos. Precisamos entender que nossas ações, mesmo parecendo inofensivas, podem ter consequências para elas. Fico pensando no legado que ensinamos às nossas crianças quando permitimos que elas escolham se aglomerar. Vivemos um tempo que nos exige um cuidado coletivo, e precisamos ensinar nossos filhos(as) exemplo.
Enquanto escrevo sei da saudade que dá de poder ficar conversando ao final do dia, de trocar sobre as crianças, sobre a vida e tudo mais. Mas não é tempo disso e nossas ações impactam na vida de outras pessoas. Enquanto deixamos a escolha pela aglomeração para as crianças ao final da tarde, estamos colocando em risco um projeto de cuidado que a escola desenvolve com elas. Vocês já pensaram no quanto isso é contraditório? Precisamos nos responsabilizar e ajudar as nossas crianças a entenderem isso: o cuidado é coletivo e só sairemos vivas(os) dessa pandemia se cultivarmos a ética do cuidado em nossas relações. Ainda não é tempo de aglomeração e precisamos ser parceiras(os) das professoras de nossas crianças, da escola e entre nós mesmas(os). As vacinas estão chegando, mas sozinhas elas não dão conta de um vírus tão instável como o coronavírus.
Dessa forma, este é um texto-convite para repensarmos nossa implicação com a comunidade escolar e evitarmos comportamentos que colocam outras pessoas em riscos. Parece inofensivo ficar um tempo na calçada ao final do turno. Será mesmo? Fica o convite para cada família repensar o que ensina para sua criança quando permite que ela fique na porta da escola correndo com outras crianças com muitos adultos à volta. E que possamos seguir nos cuidando e cuidando das outras pessoas, seguindo as medidas de distanciamento para quem sabe, logo mais, podermos usufruir do tempo juntas(os) com mais tranquilidade.
(*) Psicóloga, docente e madrasta do Apolo, aluno do Grupo 4 da escola.