Leonardo Boff (*)
Desde que entramos na Escola Projeto, em 2018, e fomos descobrindo como funcionavam os estudos dos artistas, alguns familiares me comentavam como seria bacana se a Ultramen pudesse ser, um dia, a banda estudada. Eu respondia que achava que não nos encaixaríamos no projeto, por sermos um grupo, enquanto que os estudos eram sempre sobre artistas solo. Além disso, uma banda de rock, talvez fosse algo muito “subversivo” e agressivo, em comparação aos artistas geralmente estudados até então.
Contudo, nesta trajetória de pai da escola, algumas vezes fui abordado nos corredores, pela Deborah ou pela Virgínia, que me comentavam que em algum momento teria que acontecer uma parceria entre a escola e a banda, da qual sou integrante desde 1998.
Eis que em 2020, o Professor Ianes trabalhou a música “Santo Forte” com o quinto ano. Essa música foi reverberando pela escola, e acabei tendo a oportunidade de, logo em seguida, ver o meu filho mais velho, então no terceiro ano, em aula online, aprendendo-a também nas suas aulas de música. Foi muito emocionante vê-lo cantando junto com seus colegas.
Em seguida veio a surpresa: o convite para a Ultramen ser a primeira banda a ser estudada pela Projeto, no ano de 2021!
Mesmo já sabendo do envolvimento das crianças com os artistas estudados, graças ao trabalho incrível de toda a equipe da escola, que faz a obra ultrapassar os limites da disciplina de música, e chegar a toda a grade curricular, não pude deixar de me surpreender e me emocionar ao ver meus dois filhos estudando com profundidade uma obra da qual tenho parte, estabelecendo uma relação com a banda, que eu jamais seria capaz de proporcionar a eles.
Foram também muito emocionantes as visitas aos alunos, desde os do minigrupo – que nos olhavam com carinha de espanto e admiração, nos apontando e exclamando “O Ultrameeen!”, e cantavam com alegria nossas músicas – até o quinto ano, cujos alunos chegamos a ver tocando instrumentos e cantando juntos o “Tudo de bem, Tudo de bom” na hora do recreio. Foram vários encontros, no turno da manhã e no da tarde, turma por turma, pois era necessário continuarmos respeitando o principal protocolo da Covid-19, que é o de não aglomerar. Na maioria das vezes, estive junto com o meu parceiro DJ Ânderson, que, da mesma forma, teve muito entusiasmo e forte envolvimento com as crianças durante o processo. Estas se interessaram muito pelos seus toca-discos e sua habilidade em manipulá-los fazendo os “scratchs”. O Pedro, baixista, ficou encantado com os desenhos que estavam fixados nas paredes do auditório. Ficamos surpresos com as interpretações que as crianças faziam das letras das nossas músicas. Segundo relato posterior do Ânderson, ver todos aqueles trabalhos e a energia e empenho das crianças em cantar e vibrar na alegria conosco foi também um grande aprendizado para nós da banda. Percebemos que o nosso trabalho também tem grande impacto junto às crianças, e vimos um pouco mais de perto a diferença que a música faz na educação delas, e como é grande o poder transformador que a arte pode proporcionar à sociedade.
O meu entusiasmo foi tão grande, que eu queria sempre voltar e participar de tantas atividades quanto fosse possível. Disso também resultou a criação de um clipe da música “Felicidade Espacial”, produzido pela turma 43.
Na frente da escola, nos horários de fim de turno, conversando com os familiares, percebi que o trabalho da Ultramen na escola estava envolvendo e unindo crianças e adultos, uma vez que a banda também já foi trilha sonora de muitos momentos dos “coroas”. Recebi muito carinho desses familiares que, ao virem conversar comigo, demonstravam o quanto estava sendo divertido ouvir a “playlist” da Ultramen junto aos(às) pequenos(as).
A última questão era o show de encerramento. Poderíamos ter finalmente um show presencial? Ou a pandemia iria nos punir mais uma vez com a impossibilidade de reunir toda a comunidade escolar? Depois de tanto tempo de isolamento, a vontade de estarmos juntos era imensa, e a ideia de cada família assistir ao show de sua casa me causava uma certa tristeza. Ainda mais depois de sentir a energia das crianças nos encontros com a banda na escola. Graças ao bom andamento das vacinas nos adultos e ao tempo de experiência que tivemos para aprender a lidar com tudo isso, achamos que seria possível realizar o show em um lugar aberto. Veio, então, a ideia do Vila Flores. Ali parecia o lugar ideal para esse grande reencontro da família Projeto. O astral do ambiente, que é totalmente voltado às artes, fechou perfeitamente com a proposta. Crianças, mães, pais e familiares cantando e dançando sob o forte sol da manhã do domingo do dia 12 de dezembro, foi o melhor “rolê” dos últimos tempos!
Acho que foi o legítimo encerramento com chave de ouro do estudo da banda e do ano letivo!
(*) Tecladista da Banda Ultramen e pai dos alunos Bernardo e Vicente.
Instagram: @boff_leonardo leonardoboff@hotmail.com
Instagram da banda Ultramen: @bandaultramen