Como intervir nas escolhas de leituras dos alunos? Deixar que levem para casa livros escolhidos por eles, mesmo com maior volume de texto? Ou restringir as escolhas que não acreditamos serem as mais adequadas para o momento?
Na escola, como professores, estamos sempre atentos às escolhas dos alunos e, principalmente no início de ano, procuramos não interferir com proibições, observando como as escolhas dos alunos prosseguem e como eles lidam com os livros escolhidos, para, a partir daí, planejar a melhor intervenção, levando em conta nossos objetivos em relação à leitura na escola:
- desenvolvimento do pensamento letrado, no sentido da apropriação cada vez maior e mais abrangente da linguagem escrita dos diferentes tipos de texto (literários, funcionais, científicos e de uso social);
- aperfeiçoamento da compreensão leitora e das possibilidades de estabelecimento de relações, bem como da fluência na leitura;
- utilização da leitura como fonte de prazer e informação, ampliando o seu repertório significativamente, no sentido de conhecer diferentes gêneros de textos, autores, ilustradores e recursos da linguagem escrita.
Por exemplo, se um aluno do 2º ano deseja levar emprestado um livro da coleção Harry Potter, que em princípio parece ter um volume de texto excessivo para essa etapa da escolaridade, tentamos alertá-lo para o fato, conversando com ele, perguntando se poderá contar com o auxílio dos pais na leitura, avisando que poderá renovar o empréstimo, se não terminá-la no prazo inicial de uma semana, e que poderá devolver e escolher outro, se o achar inadequado. Assim, se ele devolver o livro no dia seguinte, dizendo que não gostou ou que achou que não vai conseguir ler, por ser muito grande, tudo bem: incentivamos que escolha outro, auxiliando-o se necessário. Mas, se ele for renovando e trouxer um retorno positivo sobre a leitura (de que está gostando, de que o pai ou a mãe está lendo para ele cada dia um pouco e estão gostando muito), não há por que impedi-lo de continuar com o livro ou mesmo de tomar emprestado outras vezes livros mais longos. Estaríamos levando em conta as diferenças na turma (diferentes interesses, diferentes níveis e possibilidade de leitura, diferentes realidades familiares) e administrando-as a favor do aluno.
Porém há situações de inadequação mesmo, no caso de livros que são dirigidos a adultos, por exemplo, que também temos na nossa biblioteca, os quais não estão liberados para as crianças, nem que elas queiram muito. Simplesmente dizemos que aquele livro não é para a sua idade e terminamos o assunto. É um limite claro que fazemos, da mesma forma que faríamos com uma situação de perigo físico, em que achando que há grandes possibilidades da criança se machucar, não permitimos que ela suba à determinada altura, que atravesse a rua sozinha, que se embale tão forte etc.
Em outros casos, quando observamos que os livros escolhidos são sempre os mesmos (em gênero, tamanho ou autor, ou mesmo com o título repetindo-se seguidamente), procuramos criar estratégias para o grupo, ou mesmo para determinado aluno, tendo em vista auxiliá-lo na escolha, garantindo variedade e melhor aproveitamento do acervo disponível. Por exemplo, pode-se promover a “semana do livro de artes”, a “semana do livro de poesia” ou a “semana do autor x ou y”. Esse encaminhamento, ao mesmo tempo em que restringe temporariamente as leituras e empréstimos ao foco escolhido, obriga os alunos a conhecerem mais a fundo as diferentes possibilidades de opções que a biblioteca da escola lhes oferece, para que possam ir ampliando suas escolhas.
Assim, acreditamos que tanto as leituras na biblioteca como os empréstimos devem ser acompanhados de perto pela professora, que comenta e pergunta sobre os textos, troca impressões, indica e sugere.