Karen Pupp Spinassé (*)
Ao pegar a Katherine da Projeto, além do clássico “Como foi na escola hoje?”, algumas vezes eu também perguntei: “O que você aprendeu na escola hoje?” E todas as vezes que fiz essa pergunta, a resposta foi a mesma: “Nada! Na escola a gente não aprende nada. Só brinca”. E olhando ontem as suas produções do ano, fiquei refletindo sobre isso.
As crianças criaram vínculos de respeito e colaboração, ganhando um olhar sensível ao “diferente”. Com combinados e regras de grupo, elas foram desenvolvendo seu senso de sociedade. Gravetos e pedras viraram brinquedos, despertando a criatividade e diferentes habilidades. Laura Castilhos foi uma inspiração para essas crianças, que brincaram e produziram materiais com barro, descobriram cores com aquarela e se encantaram com as ilustrações nos diversos livros que a artista ilustrou. Abordaram diferentes técnicas artísticas, viram, exploraram, experienciaram, tocaram e fizeram com suas próprias mãos. E também a ida à Bienal contribuiu para o desenvolvimento dessa sensibilidade no olhar, para contemplar e aprender novas técnicas e linguagens para a expressão artística. Exploraram luz e fogo, iluminaram-se. Estudaram-se no projeto “Quem sou”, questionaram-se sobre seu eu, pensaram suas histórias, seus entornos e seus detalhes físicos – aqui com a influência do artista visual Lipe Albuquerque, que os visitou. E, para a confecção de seu autorretrato, visitaram as produções de Rembrandt, Picasso, Frida Kahlo e Salvador Dali, percebendo como cada um produzia os seus – não deixando a selfie de fora desse universo de autorretratos.
Na música, exploraram instrumentos diversos, diferentes sons e melodias – e canções até em outros idiomas. Luizinho Santos e Bethy Krieger trouxeram o piano, o saxofone e a flauta transversa para o universo deles, universo agora permeado de canções infantis, não-infantis e músicas instrumentais. Universo este também que já havia recebido Gláucia de Souza, familiarizando as crianças com narrativas e personagens diversos – o que é uma constante, na verdade, já que a biblioteca é um espaço diário para se explorar a imaginação e a fantasia, para criar o vínculo com o livro, para se contar e ouvir histórias, aumentando o vocabulário e o conhecimento de mundo. Os personagens do folclore brasileiro foram explorados, abordando-se questões culturais para além das literárias.
Vendo os problemas matemáticos, lembrei-me das vezes em que Katherine quis ser a responsável, em casa, por dividir as guloseimas, calculando quantas cada um ia receber, e achando saídas para quando a conta não fechava. Esses impulsos na escola a levaram a se interessar por medidas de espaço e tempo, distância e quantidade, observando isso em seu cotidiano, apropriando-se mais do conceito de número e desenvolvendo a olhos vistos seu raciocínio. E as horas de pátio e educação física, explorando o corpo com dinamismo, bem como os recortes com tesoura e o manuseio dos lápis também contribuíram para esse desenvolvimento intelectual das crianças – que, brincando, também adquiriram vocabulário em inglês e foram se sensibilizando para o mundo plural e multilíngue em que vivemos.
Pois é, na escola não se aprende nada. Só se brinca. E eu espero que a Projeto continue não ensinando nada aos nossos filhos, como vem fazendo de forma primorosa por todos esses anos!
(*) Mãe da Katherine (Grupo 4) e do Alexander, que esteve na Projeto do Grupo 4 ao 5º ano.