Gabriela Filipouski (*)
O clima de apreensão que, nas últimas semanas, se apoderou de pais, mães e educadores(as), em função das cenas grotescas e das fakenews aterrorizantes que circularam nas redes sociais, não passou desapercebido por grande parte das crianças.
É compreensível que, conforme as características de cada uma ou de suas famílias, o quanto e o que sabem sobre o assunto seja diferente. Mas, em todos os lugares, tornaram-se corriqueiras perguntas a respeito do modo de falar disso: como abordar um assunto tão violento? O que dizer?
Nessa circunstância, assim como em todas as outras que representem forte impacto ao cotidiano infantil, o primeiro questionamento de pais e mães deve ser sobre o que a criança sabe. E isso pode ser depreendido tanto da observação atenta, quanto de conversas com ela. A partir daí, o diálogo a ser estabelecido precisa evitar a mentira ou a atenuação dos fatos relatados, referindo o que aconteceu e o quanto o ocorrido é sério e preocupante. Essa também é uma oportunidade de esclarecer fatos, desmistificar fakenews e mostrar que a família e a escola estão juntas e atentas para a proteção integral da criança.
É importante também favorecer a expressão de sentimentos e emoções em relação aos fatos. Um adulto compreensivo, que ouve com atenção e valida os sentimentos infantis, dá mais segurança para lidar com assuntos inquietantes.
Vale ainda ressaltar que, se a criança não souber do ocorrido e não tenha tido contato com o assunto, não é necessário falar sobre isso com ela, mas convém manter a atenção para poder acolhê-la, caso ela faça perguntas, manifeste agressividade ou ansiedade. A mudança de atitude pode ser uma forma de manifestar que algo não anda bem e uma conversa com os pais ou responsáveis pode ajudar a esclarecer o motivo.
Também pode ocorrer que a criança ignore os fatos, mas que perceba o clima de tensão que, por ventura, tenha se instalado, tanto na escola quanto em casa. Nesse caso, não é necessário pormenorizar os fatos, basta tratar do assunto de forma genérica, confirmando que algo muito triste aconteceu, envolvendo crianças e escolas, mas que os adultos, responsáveis por tratar dessas questões, estão preocupados e resolvendo o que fazer.
Sem banalizar, a situação presente se assemelha à forma de lidar com as crianças frente a assuntos difíceis em geral: com clareza e honestidade, validando os sentimentos infantis e ajudando as crianças a se sentirem seguras e legitimadas.
Da mesma forma, a escola também precisa estar aberta para acolher os sentimentos da criança, dando espaço para tratar desses assuntos também no ambiente escolar. Trata-se de (mais) um momento que escola e família devem agir juntas, sem cobranças, mas tendo como objetivo comum a segurança e a educação integral. A escola deve manter-se como um lugar tranquilo, onde as famílias deixam seus(suas) filhos(as) com segurança e confiança. Daí ser importante trocas constantes para conhecimento mútuo das peculiaridades relacionadas às crianças e ao modo como tornar possível a construção de uma sociedade melhor, com mais tolerância e paz.
(*) Mãe de aluno do 5º ano da Projeto e Psicóloga que coordena rodas de conversa com as famílias.