Rafael Bricoli (*)
Venho aqui compartilhar com vocês os desafios e as aprendizagens entre ter uma ideia e colocá-la no mundo.
Desde o ano passado, eu coordeno as ações do Grêmio Estudantil na Escola Projeto, junto com os(as) alunos(as) do 5º ano. A proposta inicial era usar o espaço escolar e o engajamento das crianças para desenvolver ações ligadas ao MOVIMENTO DE ESCOLAS PELO CLIMA (Movimento que reúne escolas pelo Brasil todo, com a intenção de incentivar, movimentar e trocar experiências em relação às emergências climáticas). A proposta neste ano era que as crianças experienciassem, de maneira prática e concreta, ações relacionadas a essa preocupação com o clima, mas, principalmente, com a intuito de engajar a comunidade escolar (crianças, famílias e equipe pedagógica) no cuidado com o planeta. Ao montarem as diferentes propostas, cada diretoria teve o desafio de propor 3 ações concretas que se relacionassem com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS).
Logo de início, após o resultado das eleições, ficou definido que a chapa vencedora – “Animais Globais” – desenvolveria suas ações no 2º trimestre, enquanto a outra chapa – “RRR” -, faria isso no 3º trimestre, dando a oportunidade para que ambas as diretorias pudessem colocar as suas ideias em prática. Na semana passada, com o fim do 2º trimestre, a diretoria “Animais Globais”, realizou a sua última ação, finalizando suas propostas.
Essa chapa escolheu os seguintes Grupos de Trabalho (GTs): GT da Comunicação, GT da Solidariedade e GT da Recreação.
Iniciamos o trabalho com o GT de Comunicação, e a primeira atitude foi divulgar com mais ênfase os materiais (resíduos) que a escola já recolhe como um ponto de coleta. Fizemos um vídeo super simpático divulgando quais os materiais e as parcerias que fizemos para viabilizar a destinação correta dos diferentes resíduos: lixo eletrônico, óleo de cozinha, pilhas, esponjas usadas e tampinhas. Com a intenção de fazer as crianças participarem de todo o percurso e o processo de destinação desses resíduos, após o recolhimento desses materiais com a ajuda da comunidade escolar, elas próprias ficaram responsáveis em encaminhar para os lugares corretos.
A primeira entrega foi a de tampinhas, as quais destinamos (e foram MUITAS!) para a escola de surdos(as) “Frei Pacífico”. Fizemos parceria com essa escola, pois ela está vinculada ao projeto “Tampinha Legal” e o valor que arrecadam ajuda na compra da merenda escolar da instituição. Quando fomos entregar, as crianças representantes do Grêmio tiveram contato com os(as) estudantes do local, percebendo que na questão da linguagem brasileira de sinais (LIBRAS), nós temos muito o que aprender.
A segunda entrega foi a das esponjas. Esse resíduo, se descartado no lixo comum, não consegue ser reciclado, pois precisa de um processo muito específico de reciclagem, sendo um poluidor perigoso para o meio ambiente. A escola passou a recolher esse resíduo a partir da ação do Grêmio do ano passado, sendo esse trabalho valorizado e continuado por aqui. Com a escola sendo um ponto de coleta, conseguimos juntar centenas de esponjas para entregar à empresa TERRACYCLE. As crianças representantes do Grêmio, separaram, contaram, embalaram e foram até os correios para encaminhar o material.
Os demais resíduos (óleo de cozinha e lixo eletrônico) foram entregues para outra empresa parceira: a ECOPOINT, que faz a destinação correta desses materiais.
Participamos também com o GT de Comunicação da arrecadação de agasalhos para as aldeias indígenas “Cantagalo” e “Anhetenguá”. Junto ao NAMP (Núcleo Antirracista e Multicultural da Projeto), as crianças fizeram cartazes e ajudaram a somar nessa campanha importante para arrecadação de agasalhos neste inverno tão atípico e chuvoso.
Como última proposta, o Grêmio Estudantil havia pensado numa ação de Solidariedade em relação aos animais abandonados na rua. Para isso, entramos em contato e nos somamos à uma ação voluntária que resgata animais em situação de rua. O projeto P.A.S. (Proteção, Apoio e Solidariedade) é formado pelo casal Eliane e Carlos, e desenvolve esse trabalho voluntariamente há mais de 17 anos. As crianças do Grêmio criaram panfletos e foram para a área do ‘Drive’ da escola para panfletar. Estavam bastante engajadas, em especial, nesse projeto de solidariedade, com o discurso e a argumentação na ponta da língua.
A ação de Recreação acabou sendo adiada para o mês do dia das crianças (em outubro).
Uma marca que ficou muito forte para mim nessa experiência foi a importância de criar conexões. Já sabemos que a escola é um organismo vivo. Mas essas ações mostraram que somos muito mais eficientes se fazemos parcerias. As parcerias com a Escola Frei Pacífico, com a Terracycle, com a Ecopoint, com as aldeias indígenas e também com o projeto P.A.S., em três meses, nos permitiram contribuir de maneira solidária e significativa, somando forças, para a mitigação dos efeitos climáticos.
Pequenos gestos fazem grande diferença em relação ao clima! Mas acrescento que pequenos gestos também podem fazer grandes parcerias e aprendizados. Quando as crianças fizeram as suas propostas de ações, no início do ano, não tínhamos essa consciência da necessidade de nos somarmos a outras iniciativas. Assim, as crianças tiveram ampliadas, na prática, suas experiências de cidadania. Ao verem as suas intenções iniciais impactarem de fato pessoas reais, elas relataram uma sensação de gratificação. E eu, enquanto professor coordenador desse trabalho, vendo o envolvimento e o engajamento das crianças, me enchi de real orgulho. E entendi, de maneira mais concreta, que, no que se refere às questões climáticas, é preciso somar.