Deborah Vier Fischer
Uma tarde. Um encontro. Hoje não tem Chuva fina, mas tem Monica Tomasi. Ela, feita de carne e osso e outras coisas que não nos falou, esteve na escola para falar conosco sobre sua música, deixando a gente com a sensação de que a vida é mesmo Intermitente.
Alguns minutos de conversa. Outros tantos de canções. Amor. Afeto. Leveza. Emoção. Monica Tomasi transita entre essas palavras, carregadas de sentimentos e delicadezas. O tempo que (nos) para ao som da chuva nada fina desta tarde fria de setembro.
O que te inspira, Monica? Pergunta uma criança com os olhos brilhando de curiosidade. Tirar o que tem de bom na rotina, podendo vê-la de forma diferente, responde a compositora, mas o que me inspira de verdade são as pessoas, as cores, o que vemos na rua. Minha composição nasce disso, do que acontece. Mesmo quando não está tudo legal, eu busco compor. E daí a gente acessa algo interno, um estado de espírito, é difícil falar, não é algo racional.
Canta pra gente, Monica, grita do fundo outra criança! E Monica canta. Canta e fala. Fala e encanta. Sua canção vai se transformando em pequenas amostras de sua pessoa, do que conta, de fato, em sua vida. Então ela pega o cavaquinho. E uma criança diz: É um violinho! Monica ri. Ri e dedilha. Com um sorriso largo e os olhos pequeninos, que se fecham, apertados, ela reforça: Quando a gente faz música nunca está sozinho. Tem sempre alguém para batucar com a gente, e engata uma canção: vou sambar, apesar do tempo ruim, mas eu sinto que ele é bom, mas eu sinto que ele é meu, meu camarada, oi oi oi…, porque sempre tem alguém, pra batucada, oi oi oi.
E, Monica, por que tuas músicas falam de amor? Pergunta outra criança, enquanto a compositora dá os últimos acordes e o público ainda canta, oi oi oi… Bah, diz Monica, difícil falar, acho que porque me sinto muito amada por muitas pessoas e tento fazer um universo colorido para conviver com elas. A música, para mim, é estado de felicidade plena. A música faz a gente ter amigos. Então, como não fazer música? E canta: Me deixa ver o sol brilhar, me deixa ver o mar, sai coisa ruim, larga o meu pé, me deixa respirar…
E quando acaba este breve relato, impregnado de Monica Tomasi? Respondo com ela, ao ser perguntada sobre como sabe quando terminam suas canções: Eu sei quando acaba minha música quando me emociono. Quando isso não acontece, é porque ela não está pronta.
Tomada de emoção, ouço a pergunta derradeira: O que tu sentes ao ter o teu trabalho estudado pela escola? E diante de sua resposta: Nossa! É muito, muito, muito, muito… não há mais como falar, as lágrimas escorrem e eu penso juntamente com ela: Eu preciso de mim, não sei onde estou, preciso que você me ache. Estou achando que precisamos é achar mais “Monicas Tomasi” neste mundo.
Queres saber mais sobre essa pessoa-compositora incrível? Fala com ela, que deve te responder algo mais ou menos assim: Me manda um email, me tem amor, diz que ama, que eu dou replay. Você é o lado esquerdo, é o par perfeito, enche de alegria minha caixa postal. Laiá laiá laiá…
(*) As partes em itálico são trechos das canções de Monica Tomasi (Chuva fina, Intermitente, Ela vai pro samba, Apela, Me ache, Me manda um email), cantadas entre momentos de conversa e cantoria no encontro com as crianças da Escola Projeto, como fechamento do “Estudo da obra de um compositor(a) convidado(a)”, que valoriza a produção musical local e acontece uma vez por ano, envolvendo toda a escola – educação infantil e ensino fundamental I. Este breve texto foi escrito durante o encontro da Monica com as turmas da escola, no dia 22 de setembro. No dia 23, houve o show de encerramento do projeto, no teatro da AMRIGS, com a presença da compositora, aberto à comunidade da Projeto e ao público em geral.