Mauro Dorfman (*)
Muito se discute sobre os desafios da educação nesta era de transformação. O modelo pedagógico de lógica industrial que herdamos do século XX está superado. Vivemos um tempo de mudanças radicais e aceleradas, um tempo em que o conhecimento está sempre disponível para ser acessado. Parece que apenas fornecer conteúdos estruturados e catalogados é uma missão muito insuficiente para a escola de hoje.
Como afirma Yuval Harari em seu livro 21 Lições para o século 21, “num mundo assim, a última coisa que um professor precisa dar a seus alunos é informação. Eles já têm informação demais. Em vez disso, as pessoas precisam de capacidade para extrair um sentido da informação, perceber a diferença entre o que é importante e o que não é, e acima de tudo combinar os muitos fragmentos de informação num amplo quadro do mundo. (…) Então, o que deveríamos estar ensinando? Muitos especialistas em pedagogia alegam que as escolas deveriam passar a ensinar “os quatro Cs” – pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade”.
Este novo paradigma está sendo praticado intensamente em uma escola de Porto Alegre, em uma rua arborizada que margeia um grande parque. Quem visitou a recente Mostra de Arte da Projeto, em dezembro de 2018, viu e viveu. Tomando como fonte a trajetória e a obra do artista plástico Mauro Fuke, a escola envolveu seus alunos em uma jornada completa de observação, aprendizado ativo e produção. Crianças de todas as idades participaram de acordo com o seu momento de vida, dando uma dimensão transversal à atividade. Muito além de receber informação, cada um pode mergulhar no processo criativo e nas técnicas desenvolvidas por Fuke, e então transformar aprendizado em expressão.
A produção que resultou desta experiência encheu os espaços da Projeto de obras individuais e coletivas providas de uma energia impressionante. Sala após sala, as colagens, esculturas e instalações dos alunos eram como que uma expansão do vocabulário pessoal desenvolvido pelo artista, manejados com a naturalidade de quem está capacitado para dialogar com o mundo. Presente ao evento, um Mauro Fuke emocionado testemunhou a apropriação da sua obra.
Na educação do século passado, arte era uma matéria periférica, apartada dos conteúdos sérios que tinham valor real para quem quisesse vencer na vida. A Mostra de Arte da Projeto foi a conclusão de um processo que teve importância central na vida escolar ao longo de todo um trimestre. E prova que os líderes da revolução tecnológica podem ser forjados com papel, madeira e argila.
(*) Mauro é pai da Cecília, aluna do 5º ano da Projeto, e da Alice, ex-aluna.