Cristine Zancani (*)
O estado natural de temperatura e pressão dos últimos dias é: à flor da pele. É um estado singular de se estar. Tudo se amplia muito. A sensibilidade se aguça. Tenho lido entrelinhas até no modo do vento ventar, tenho decifrado silêncios e sinais de pontuação. Se existisse o Lobo da história, ele perguntaria: Por que esses olhos tão grandes, Cristine? Por que essa pele que abarca tudo?
Uma das coisas que esse estado à flor da pele me ensina é que é hora de gerar beleza, compartilhar carinho, tirar histórias do baú, dizer “eu te amo” para as pessoas que a gente ama – não pela eminência trágica de perder as pessoas, mas porque compartilhar o amor e gerar entendimentos, nos tira um pouco da gaiola, nos lembra que existe muita coisa além do medo e faz a flor crescer na pele – da maneira mais bonita.
Ontem, aqui em casa, aconteceu uma história bem singela. Clara estava cantando Construção, do Chico Buarque, que trabalhou em aula com a Ana Carolina. Imagina o alvoroço da minha pele… Então, Fornazzo pegou o violão, começou a tocar com ela e a cantar junto. De repente, ela parou e disse:
– Pai, vou te dizer uma coisa que o Ianes nos diz: “Não pode ter medo do agudo”.
Achei tão lindo, que escrevi pro Ianes pra contar. A aula dele estava ecoando aqui. A importância dos professores é imensa e sempre deve ser dita/declarada.
Cada um de nós, nesse isolamento, está carregando muita gente, muitas palavras, espaços inteiros (como a escola), muitas vivências. E cada um de nós tem muito amor e muita palavra de afeto a compartilhar – além do medo. Termino esse texto cantarolando, e peço que me sigam:
– “Amou daquela vez como se fosse a última”… (sem medo do agudo, por favor)
Para o Ianes e para a Ana Carolina: vocês – e a escola – estão aqui em casa – junto com muita gente.
(*) Cristine é mãe da aluna Clara/5º ano, doutora em Teoria da Literatura pela PUCRS e integra projetos de formação de leitores.