Gostaria de, em nome da Ama Livros, agradecer pela oportunidade de participar da Feira do Livro de vocês neste ano e aproveitar para relatar algumas impressões sobre o evento como um todo.
Somos uma pequena distribuidora de Porto Alegre que, desde sua fundação, procura representar editoras com qualidade literária. Temos a firme convicção de que as mudanças estruturais neste país passam pela educação, pela cultura e pela leitura. O mercado do livro é um nó bem difícil de ser desatado. Temos as grandes editoras de produtos duvidosos, catálogos Disney e outros penduricalhos que ousaram chamar de livro, todos impressos na China. Os descontos praticados por essas editoras aos livreiros, quebrou o comércio das editoras sérias, as pequenas, diga-se de passagem. Não há como concorrer com a margem praticada por elas. Então, hoje, a vasão da produção de qualidade só se dá em adoções escolares. Tirando este público, o que há de melhor para crianças e jovens permanece estocado nos depósitos das editoras.
Há muito deixamos de participar de feiras e eventos “literários” no RS. Vamos à feira de Porto Alegre, mas nossos compradores são seletos, em meio a todo aquele lixo cultural (Em 2017, a área infantil e juvenil contou com apenas 13 bancas, em sua maioria esmagadora com aquilo que não acreditamos formar leitores críticos), conseguimos nos destacar e atrair quem tem o mínimo de critério. E aqui entramos em uma questão crucial, a maioria desses “eventos” não tem qualquer preocupação com o agente principal, o livro. São centenas, milhares de feiras sem livros. No meu parecer, para inglês ver.
Fiquei atento ao saber como a Escola Projeto organiza sua feira. Tanto, que, em 2017, fui convidado para uma mesa durante a Jornada de Passo Fundo e escolhi abordar a ausência da Literatura Infantil e Juvenil dos eventos no Estado, usando vocês como exemplo de curadoria. Claro, como não havia pedido autorização, não nomeei a escola, mas em minha fala eu disse mesmo: a única escola que realmente se preocupa com o que os seus alunos adquirem em uma feira do livro escolar é a Projeto.
E então, neste ano, foi possível experienciar.
Vocês precisam ser estudados. Como uma comunidade escolar consegue fazer isso com a leitura? É possível sentir o amor pelos livros e pelos escritores nas crianças, nos professores, nos pais. A dinâmica de escolher um nome reconhecido na arte da escrita e aprofundar sua produção é rara. Normalmente o que vemos nas escolas é número: muitos escritores, muitas atividades, muitas bancas. Para ficar bonito no folder e na foto. Então, ver meninos e meninas sabendo o nome de cada livro, vibrando na mesma energia, não tem preço. Aliás, não ouvi as famílias reclamando de preço, outro fato recorrente em eventos do gênero. Eles sabem onde investir seu dinheiro, reflexo da seriedade com que vocês tratam esse objeto mitológico, o livro.
Foi um privilégio participar desse momento tão importante para vocês.
Vida longa à Projeto e contem conosco sempre que necessário.
(*) Antônio é escritor – tem quatro livros publicados para o público infantil e juvenil – e trabalha na Ama Livros Distribuidora. Suas obras já receberam algumas distinções como Acervo Básico da FNLIJ, Selo Altamente Recomendável, Catálogo de Bolonha, e já foram adquiridas pelo Programa Biblioteca Itaú. É vice-presidente administrativo da Associação Gaúcha de Escritores – AGEs (2017 – 2018).