Rubem Penz
Vale Tudo, Roque Santeiro, Ti-ti-ti, Dancin’Days, Que Rei Sou Eu, Escrava Isaura… Telenovelas fazem parte da nossa vida e, algum dia, você também acompanhou a saga das tantas personagens consagradas na dramaturgia eletrônica brasileira. Conheceu alguém que tenha sido batizado com determinado nome em razão de um galã. Teve um romance embalado pela “trilha sonora internacional” do momento. Mas a vida, ah a vida, ela não é uma novela. Nem a escola. Ufa, ainda bem!
Sabe por que respiro aliviado? Porque sei como funciona a novela: somos convidados a testemunhar os desentendimentos e desencontros que moverão uma rede de intrigas urdida para separar amigos, amores, irmãos… Vemos um bom rapaz ser injustiçado, recair sobre a virtuosa moça uma calúnia, uma palavra ser distorcida e colocar tudo a perder. E o nó terá centenas de capítulos necessários até o final feliz. Qualquer estraga-prazeres capaz de fazer duas reles sinapses sabe que bastaria o mocinho ir conversar com a mocinha na hora, disposto a esclarecer as coisas, ou vice-versa, que tudo estaria resolvido. Porém, aí não tem novela: a coisa precisa render.
Alguma novidade nos parágrafos anteriores? Aposto que você também já se deu conta disso (talvez semanas atrás, quando começou a nova história de amor interrompido no horário nobre). Então, consciente de que um pouco de serenidade e canais corretos para a interlocução abortariam boa parte dos mal-entendidos, senão todos, como explicar tanto diz-que-me-disse nas redes sociais, na porta da escola, em telefonemas ou nos bancos da Van? Qual a dificuldade em parar uma fofoca, muitas vezes surgida nem se sabe onde ou como? Não tem explicação.
A teledramaturgia se alimenta de relações imaturas, quando não infantilizadas, para compor um drama duradouro. Pais, professores, coordenadores e direção podem tudo, menos crer nesta fórmula para a mediação de conflitos no âmbito escolar. Transparência, serenidade, equilíbrio, alteridade, confiança, isto sim precisa compor o script da vida real. Também a crença de que o mundo fora das histórias não é dividido de modo binário entre mocinhos e bandidos, bem e mal, virtude e vício. Com base nessa compreensão, fazer o simples: conversar, na hora, e com quem está disposto e preparado para resolver.
Sem novela.
Muito bom, Rubem, simples e direto!