Rubem Penz
Não há bola de cristal que dê conta da velocidade imposta pela tecnologia e de suas consequências em nosso cotidiano. Se olharmos o Século 20 – e tudo o que nele mudou –, e compararmos com os primeiros dez anos destes 2000, ficará evidente a aceleração vertiginosa. Por isso, é muito justo que estejamos meio desorientados sobre o que aconselhar aos nossos filhos para a vida adulta. Eu próprio estou com a bússola enlouquecida. Porém, minimamente, intuo qual será a mais importante ferramenta para equipar nossas crianças para enfrentarem o amanhã. Ela não é nem hardware nem software (tudo fica obsoleto muito rapidamente). Está mais para “peopleware”: capacidade de trabalhar em grupo.
Neste sentido, fico muito feliz por saber que a escola na qual meus filhos passaram os primeiros anos adote um sistema seríssimo para compor grupos de colegas – os grupos áulicos. Partindo de indicações simples do tipo “com quem eu gostaria de trabalhar em grupo”, as professoras conseguem identificar lideranças naturais para, posteriormente elas fazerem as escolhas. Tudo com supervisão e, claro, admitindo revisões e ajustes. Ainda que critérios subjetivos estejam permeando as escolhas, o método é infinitamente superior ao ditatorial (professora compõe e fim) ou afetivo (só me reúno com amigos). Pode parecer pouco, mas há um importante embrião fecundado nas mentes dos pequenos – o posicionamento de cada um numa dinâmica coletiva.
Pais costumam ficar angustiados ao perceberem que suas crianças são o que são, jamais o que gostariam que fossem. Agindo assim, tendem a projetar sonhos e frustrações suas, bem pessoais, nos filhos, cobrando deles personalidades algumas vezes diferentes das intrínsecas. Quando a formação dos grupos emana da própria turma, naturalmente emite sinais: os extrovertidos seguem na dianteira, bem como os afáveis – separá-los será muito útil. Assim como será importantíssima a acolhida aos tímidos, por exemplo – o caráter seletivo dos introvertidos muitas vezes esconde diversas competências as quais passam longe dos “faceiros”. Como aqui não há espaço para muito devaneio, vou direto ao ponto: esta dinâmica de escolha forma grupos heterogêneos e, ao aprender a trabalhar com as dessemelhanças, adquirimos a ferramenta do futuro.
Como vivemos tempos muito sombrios, com algoritmos aproximando os iguais e apartando as diferenças, creio que posso parecer um lunático ao colocar o futuro na direção oposta. Credito isso aos falsos nortes que agulhas oscilantes apontam. No mesmíssimo tempo em que os conflitos parecem se acirrar, homens que aprenderam a cooperar promovem avanços espantosos em todos os campos do conhecimento – e é neste grupo que desejo ver minhas crianças. Também as de vocês. Isso só é possível, primeiro, reconhecendo-se igual em ser diferente dos demais. Depois, quando assumimos uma posição compatível com nossa personalidade – nem sempre a charmosa posição de comando (só isso merece uma crônica separada e, desejando, peçam).
Sociabilidade, cooperação, alteridade, tolerância… Há toda uma variedade de peças a serem combinadas nas dinâmicas de formação de grupos e disponíveis para um futuro promissor. Atenção, senhores pais: apostem nos professores atentos a isso!