Rubem Penz
Castigos físicos com uso de palmatórias, golpes de régua na cabeça, ajoelhar no milho; sentar no canto da sala, de costas para a turma e ostentando um chapéu de burro na cabeça; escrever uma frase doutrinatória até completar todo o quadro negro durante o recreio… Não, não era tarefa nada fácil ser aluno até uns anos atrás.
Um mesmo livro didático aplicado durante muitos anos (quando não toda uma vida); fluxo de conhecimento com mão única – do mestre ao aluno – e de caráter inquestionável; respeito quase reverencial cobrado de modo autoritário… Por este ângulo, era pelo menos mais segura a atividade de lecionar até uns anos atrás.
Considero muito interessante algumas pessoas exaltarem os bons e velhos tempos quando defrontadas com os desafios da sala de aula contemporânea no assunto disciplina. Sim: os alunos sabiam qual era o seu lugar! Sim: aos professores se devia respeito! Agora, você aceitaria expor seus filhos aos métodos pelos quais rezava a cartilha de outrora? Sim ou não?
A autoridade como se concebe nas escolas dos nossos filhos tem outros fundamentos e, por isso, uma construção diversa. Está muito mais próxima da condução, da orientação e da construção de conhecimento, do que pousada sobre a base de transmissão de saber. Isso não significa o fim do ensino ou do conteúdo. Ao contrário, cobra dos mestres talento e dedicação ímpares, aperfeiçoamento constante e muito jogo de cintura tanto para reter a atenção, quanto para dirimir conflitos.
Também são novos os desafios dos estudantes e das famílias. Para alcançar patamares de excelência, é preciso a participação ativa no processo – são vicinais as novas estradas por onde passará o conhecimento. As estruturas sociais horizontalizadas, as quais predominam na era da informação, serão contempladas a partir desta forma de ver o mundo e de se inserir nos processos.
Não por acaso, os castigos e a doutrinação inquestionável coabitavam com regimes de escravidão (pensando bem, os métodos são exatamente os mesmos). Sem autonomia, não haveria desejo de liberdade. O que se avizinha no futuro próximo – aliás, a novidade já chegou em nações desenvolvidas – são relações mais livres, as quais cobram de cada ator boa dose de protagonismo.
Creio que os pais atentos saberão compreender as noções de autoridade hoje redesenhadas e serão, também eles, influenciadores nesta questão. Não, não é tarefa fácil lidar com crianças e jovens questionadores e protagonistas. Mas o caminho não deveria incluir omissões ou retrocessos.
Uma reflexão excelente!!!