Fernanda Lantz(*)
Pedagoga Especial / Psicopedagoga/ Arteterapeuta
Quando fui convidada, no ano passado (2018), a implementar a Sala de Recursos Multifuncionais na Projeto, fiquei muito, muito empolgada. O convite veio a partir de uma exigência do Ministério Público a todas as escolas da rede particular de ensino de Porto Alegre, a fim de garantir o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para os alunos e alunas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. A sala de recursos é coordenada por profissional da Educação Especial, que atende aos estudantes no turno inverso à turma regular, em horários individuais ou em duplas. Tem como objetivo oferecer outros recursos de acessibilidade e pedagógicos, de forma a complementar ou suplementar a formação no ensino regular, eliminando barreiras no processo de ensino/aprendizagem.
Ter a oportunidade de trabalhar com as crianças, numa escola realmente inclusiva é, além de uma alegria, um grande desafio! Como realizar esse trabalho, deixar marcas positivas e não perder a identidade da Projeto?
Tinha entrado na Projeto naquele mesmo ano como mãe (do primeiro ano) e estava junto com meu filho numa fase de encantamento pela escola, pelo jeito como todos, crianças, professores(as) e funcionárias, ensinam e aprendem no dia a dia daquele casarão. Não é mentira quando dizem que o processo, o jeito de aprender de cada aluno(a) é olhado, acolhido e estimulado. Uma escola que tem a arte como condutora do seu fazer pedagógico não trabalha de outro jeito que não seja estimulando, valorizando a criatividade, o processo e a expressão de suas gentes.
E, então, como funciona a Sala de Recursos da Projeto? Para começar, funciona onde era a antiga Sala de Artes. Ou seja, é um lugar cheio de histórias incríveis e que pertence a todos e todas da escola. Depois de uma reforma para atender às exigências do novo espaço, foram morar na nossa sala os figurinos de teatro, fantoches, instrumentos musicais e muitos jogos, além de todos os recursos pedagógicos necessários para atender às crianças. É um espaço super inspirador!
No início, a nova placa da porta causou bastante curiosidade. Recebi muitas visitas de alunos e alunas querendo saber o que ia acontecer naquela sala, quem eu era, se poderiam participar das aulas ali. Uma dúvida que surgiu, enquanto a Sala de Recursos era ainda um “projeto”, foi como iríamos explicar às crianças o que é o AEE. Não durou muito. Já nos primeiros atendimentos um grupinho do primeiro ano adentrou a sala. Falantes e curiosos, perguntavam o que acontecia ali. As próprias crianças responderam: “Ah! Aqui as crianças que aprendem de um jeito diferente, vêm aprender de um jeito mais diferente ainda!”
Como não poderia deixar de ser, o trabalho do AEE é pensado, criado e vivenciado com cada criança e, por vezes, também com a presença de alguma pessoa da família, se a escola avaliar como produtivo e necessário. Longe de ser um reforço escolar, nesses momentos proponho vivências a partir do que as crianças sabem, gostam e desejam. Não é um lugar onde os erros são marcados. É a partir do que cada aluno(a) deseja que, juntos, vamos criando desafios e conseguimos ir além. Vamos experimentando estratégias diferentes de propor e solucionar problemas, adaptamos materiais, mobiliários (se for preciso) e utilizamos inúmeros recursos para que as crianças evoluam em suas hipóteses e se apropriem cada vez mais do conhecimento. O desejo de aprender é nosso ponto de partida e nosso ponto de chegada. Infinito e ilimitado, como cada um(a) de nós. Como todos nós, juntos!
(*) Mãe dos alunos Bernardo/2º ano e Vicente/G4, Pedagoga Especial, Psicopedagoga e Arteterapeuta.