Rubem Penz
Um dos grandes trunfos do Homem sobre os outros mamíferos, sua carta coringa, é a capacidade de adaptação (sem aqui desmerecer o polegar opositor e a superior inteligência). Ela nos propicia viver das estepes geladas aos escaldantes desertos com igual desenvoltura, ou suportar a flauta pós-Grenal na segunda-feira. Damos nosso jeito, avaliamos, corrigimos. Moldamo-nos. Adaptar-se é transformar o novo em conhecido, e o conhecido em novo. Portanto, a falta de confiança na adaptação escolar é um atentado contra leis maiores, anteriores e perenes. É recusar Darwin dentro de casa. É negar o inegável: ela acontecerá e será tão menos dificultosa quanto mais naturalmente for compreendida. Mas, vai explicar isso lá na escola…
– Como ela está?
– Parece bem… Um pouco ansiosa, talvez.
– Deixa eu ir lá falar com ela, então!
– Pra quê? Daqui a pouco ela se distrai, se ocupa, nem vai lembrar de ti.
– Impossível! Somos assim, ó: unha e carne.
– Deixa o tempo ajudar. Sem pressão. Eu sei que é muita expectativa, muita cobrança. Todo mundo passa por isso. Confia nela! Temos experiência nisso.
– E se estiver sofrendo?
– Logo passa.
– E se ficar com saudade?
– Logo mata.
– E se…
– E se estiver bem? E se estiver feliz? E se estiver achando isso tudo muito importante?
– Pois é, preciso confiar nela, né? E no apoio que a escola oferece nestes momentos de mudanças…
– Assim é que se fala! Parabéns! Sua mãe ficará orgulhosa! Espia só: ela até já está de papo com as outras mães!
– Nem lembra que eu existo…
– Então? Os colegas estão chamando. Vamos?
– Oba! Vamos!