Rubem Penz
Uma historinha rápida: em tempos pretéritos, durante uma breve estada em São Paulo, fui instado a criar o nome para uma coleção de fascículos com lições sobre música ao estilo “aprenda sozinho”. Considerei ser o trabalho mais fácil da minha vida: o nome era óbvio, vindo da combinação do termo “tema musical” com o fazer em casa, isto é, Tema de Casa. Porém, ao apresentar, os paulistas simplesmente não entenderam. Lá, os temas são chamados de lições, e eu jamais imaginava que fora vítima de um regionalismo.
Hoje, instado a escrever neste nobre espaço sobre o tema, perdão pelo trocadilho, a passagem me retornou à memória: no Brasil, há vários nomes para a mesma coisa (que o digam nossos gaúchos aipim, charque e bergamota). Em outras plagas, os nossos “temas de casa” são chamados de “lição de casa” e “dever de casa”. O bacana dessas diferenças é sua complementariedade.
Por exemplo, tema: sinônimo de assunto, matéria, questão e mote, é uma tarefa criada pelo professor para auxiliar o aluno no intuito de fixar conhecimento. Logo, “passar os temas” é indicar o quê (e como) se deve estudar determinada matéria. Foco no mestre.
Lição, por sua vez, mesmo significando aula, exemplo e ensino, traz consigo alguns sinônimos meio desagradáveis: reprimenda, punição ou castigo. A única maneira de escapar do mau parentesco é retirar a luz do professor. Ao invés de ele “passar uma lição”, cabe ao estudante “devolver uma lição”, isto é, compor, ele próprio, uma peça de ensino. Foco no aluno.
Por fim, dever: nome menos ligado ao objeto (a tarefa em si), mais ligado à obrigação. Quem deve, precisará prestar contas. Um compromisso para saldar nos termos acordados previamente, uma resposta para determinada demanda. O foco parece estar no estudante outra vez, né? Mas, não. E é aí que pretendia chegar, pois este fórum existe para pais e professores.
Todo financiador prudente busca garantias. Uma das mais conhecidas é o “fiador”, um terceiro com a responsabilidade de ser cobrado em caso de inadimplência. Assim, creio que, ao denominar a tarefa de casa de “dever”, há um complemento importante: pai e mãe entram em cena. É focalizada neles a responsabilidade sobre o cumprimento dos temas, das lições de casa. Eles, sim, serão cobrados no caso de descumprimento.
Não lembro mais do desfecho da história que abriu a crônica. Recordo que aquele nome por mim proposto para os fascículos não foi aprovado, e saí lucrando apenas com uma lição: não adianta pedir “cacetinhos” para além do Mampituba. O que eu não esperava era por este dividendo tardio: das diferenças dos regionalismos vir, claramente, o papel dos pais diante dos temas de casa.
Parece pouco, mas não é: ser fiador do processo ensino e aprendizagem coloca os pais na mais nobre posição, ou seja, de educadores.