Andréa Paim
O brincar da criança é o meio dela conhecer o mundo. A construção e o entendimento do espaço físico e social onde vive estão relacionados com as possibilidades de vivências que lhes são oferecidas nesse sentido. Assim, a criança que brinca – explora e manuseia diferentes objetos e situações, experimenta ações variadas com eles, relacionando-os entre si, consigo mesma e com os outros – está se desenvolvendo. Podemos dizer que o seu brincar é a curiosidade em ação, abrindo caminho para os mais diferentes aprendizados.
Depois de um período inicial mais exploratório, em determinado momento da infância, a criança começa, no seu brinquedo, a ser capaz de representar o real, quando vive intensamente o jogo-simbólico (o faz de conta). Quem tem criança por perto sabe que muitas coisas podem virar brinquedo, que a imaginação possibilita que um graveto seja em um instante uma colher da refeição que estão preparando e, logo em seguida, um termômetro para verificar a temperatura da boneca. E é esse brinquedo ou ação de brincar que elenco como o principal na infância: objetos que podem exercer diferentes funções e que instiguem a imaginação e a criação das brincadeiras. São eles: elementos encontrados na natureza (galhos, pedrinhas, areia, folhas), tecidos (que viram capas, lençóis para cobrir os bebês, toalhas para refeições), almofadas, embalagens vazias, caixas (que viram casas, carros, barcos, esconderijos, escritórios), bolas (que servem para chutar e que, seguidamente, viram barrigas, filhos, travesseiros) e todo o material que possa estar disponível para desenvolver a imaginação.
O interesse de representar situações reais através de brincadeiras faz parte, então, do desenvolvimento infantil, porque através do brincar a criança elabora situações vivenciadas e aprende, formula, se apropria, conclui, sente e pensa. Quantas vezes observamos as crianças brincando de família, de fazer comida, de médico, de escritório, de mercado? E quantas outras situações reais são exploradas na brincadeira, auxiliando na compreensão desses momentos?
É uma pena, portanto, que o ato de brincar, em alguns contextos, seja exclusivo das crianças menores, da educação dita infantil, e que quando elas passam para a etapa seguinte (do ensino fundamental) ouçam: “Acabou a brincadeira. Agora é sério!”. Quanto desconhecimento nessa frase, pois o brincar também é sério, e ele não pode se restringir a apenas uma etapa. Muito além da infância, brincar une, faz pensar e traz alegria. Qual o motivo para pararmos?
Além dos materiais que instigam o jogo simbólico, existem muitos brinquedos que são atemporais, clássicos, e que trazem elementos significativos para o desenvolvimento da criança, enriquecendo-o: pular sapata (ou amarelinha), jogar baralho (inúmeras maneiras de jogar), pular corda ou brincar de roda, entoando diferentes cantigas populares, brincar de bonecas (de pano, de meia, de plástico ou borracha) ou de carrinhos (de madeira, plástico, ferro, papelão), com jogos de tabuleiro ou quebra-cabeças (diferentes graus de desafio).
Recordo com alegria da família nas férias, reunida no final da tarde ao redor de uma mesa, tentando montar um mesmo quebra-cabeça. E ele passava o tempo das férias ali, cada um montando-o no momento em que julgasse melhor. E a conquista era do grupo, incluindo vizinhos e amigos que em dias de chuva compartilhavam da mesma diversão.
Esses brinquedos ou brincadeiras se distanciam de muitos que atualmente aparecem nos comerciais, nos anúncios, nas propagandas de brinquedos, os quais trazem bonecas, carrinhos, bichos e outros objetos que “brincam sozinhos”, quase nem precisando de alguém para brincar. São brinquedos que têm muitos botões e fazem vários barulhos, mas precisam bem menos da ação da criança ou de sua criação, restringindo, portanto, o desenvolvimento de sua imaginação.
Então, que tal oportunizarmos cada vez mais um brincar criativo às nossas crianças?
Mais um texto ótimo para ser trabalhado com minhas alunas, e em reuniões com pais e professores. Muito bom. abç prof Sonia
Brincar sempre! Até adultos!