Rubem Penz (*)
Se antes a questão “E se a gripe espanhola acontecesse hoje, como seria?” soava como pergunta teórica em cadeiras de epidemiologia, a História (sim, aquela com H) escolheu nossa geração para testar as respostas. E se outrora restasse apenas os livros e jornais de época para nos dar a dimensão de uma pandemia, agora somos nós, autores, a publicar a posteridade.
Em meio a muitos artigos e estudos e pesquisas e gráficos e manchetes e teorias, o que salta para a minha atenção é o humor chamando para si a responsabilidade de, simultaneamente, fazer pesar e aliviar o horror a nossa volta. Uma coisa é certa: rir pode não ser a solução médica, mas conforta a alma.
Portanto, aprecie charges, memes, aforismos e piadas sobre a Covid-19 sem culpa. Ou crônicas em forma de paródia (Bárbara, de Chico Buarque) como segue abaixo. O que os mal-humorados não suportam nas pessoas resistentes é a capacidade de ver leveza e graça até nas mais tristes tragédias. E ver a criação triunfar, pois o humor é uma forma sutil de mandar recados.
Máscara (**)
Rubem Penz
Máscara, Máscara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me salvar
O meu destino é caminhar assim
Desesperado à rua
Sabendo que no fim das contas, continuas
A vir me proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulada em perdigotos que pelo ar flutuam
Máscara, Máscara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me salvar
Vamos conter enfim a tentação
Das nossas bocas nuas
E mitigar a tosse nessas tramas tuas
Então viver enaltecendo um tanto de empatia
Maravilhosa e triunfante, contr’essa pandemia
Máscara, Máscara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me salvar
(*) Pai de ex-alunos da escola, escritor, músico e publicitário, coordena as Oficinas de Escrita Santa Sede e já foi colaborador frequente deste blog. Hoje sua colaboração é eventual, mas sempre muito bem-vinda.
(**) Inspiração (e expiração) em Bárbara, de Chico Buarque.