Julio Walz (2)
O encontro de humanos provoca turbulência emocional, onde as forças do amor e da agressividade circulam de forma alternada. Quando um dos polos desaparece da nossa percepção, quando achamos que ele não existe, criamos um problema: deixamos de ser verdadeiros conosco mesmos. E nessa hora fica muito difícil a resolução das vicissitudes do convívio.
Família é convívio. E, portanto, esses polos existirão e serão exercidos. Mas como temos uma ideia idealizada de família, um lugar de perfeição de pai, mãe e filhos, muitas e muitas vezes não queremos perceber o quanto, desde a mais tenra idade, trocamos o amar pela disputa ou agressividade com argumentos. A agressividade e a disputa não se interrompem com um faz de conta que não existem. Quando não percebemos ou não aceitamos essas emoções de base temos a tendência para criar momentos fabricados de alegria. Mas essa solução reativa não nos torna melhores pais e nem torna nosso convívio mais apropriado, pois lá dentro da alma a verdade fica escondida ou cegada. Mas saibam, aquilo que está escondido será atuado.
‘’Cuidar não é educar’’ é uma provocação semântica que busca falar sobre o convívio ente adultos e crianças visando encorajar os adultos a buscarem a verdade das emoções que estão circulando. Com a verdade das emoções aceitas conseguimos buscar soluções mais afetivas e efetivas para as contrariedades diárias de convívio dentro das nossas casas e escolas. Os cuidadores são aqueles que conseguem ser verdadeiros e próximos da sua própria infância. Quando não conseguimos o autorrespeito por nós mesmos, queremos que o outro mude, apenas ele e somente ele. O erro está apenas no outro, nunca no vínculo. Com essa cegueira nos tornamos o que chamo educadores. E nessa posição apenas as crianças precisam mudar e aprender.
Desejo que esse livro contribua para que o tema do convívio ente adultos e crianças seja uma bandeira cultural e social. E mais. Não tenho dúvidas que o engajamento pelo cuidado é uma questão de saúde pública. Mas a história humana nos mostra como ainda estamos longe de respeitarmos a infância. Caso isso venha a ocorrer algum dia, o respeito real pelas crianças e jovens, talvez o cuidado e o autocuidado tragam repercussões melhores sobre a vida e o convívio em nosso planeta.
Boa leitura, diálogo e obrigado por dividir seu tempo e reflexão comigo através dessas páginas (3).
(1) Título do mais recente livro de Julio Cesar Walz, recém publicado, do qual reproduzimos aqui o prefácio do próprio autor, com sua autorização, como forma de o divulgarmos e recomendarmos.
(2) Julio é psicólogo e psicanalista, pai de ex-alunos da Projeto e tem vários textos de livros anteriores publicados neste blog.
(3) O livro encontra-se disponível nas livrarias Bamboletras, Cameron e Livraria Santos.