Andréa Paim
Tenho pensado muito em relação a essa questão, e minhas reflexões não são de hoje. Constantemente somos questionados sobre a posição que temos em relação a diferentes assuntos. E uma das capacidades que queremos desenvolver em nossos alunos é justamente a de um olhar atento para o seu entorno, de modo que saibam se posicionar em diferentes situações, começando com aquelas vivenciadas em sala de aula, e, aos poucos, podendo levar esse aprendizado para sua vida fora da escola. Queremos que exercitem a possibilidade de se colocar no lugar do outro, mesmo que momentaneamente.
No entanto, essa pergunta, do jeito que está formulada, não tem auxiliado muito as pessoas a se posicionarem de maneira adequada frente aos assuntos apresentados em nosso cotidiano. Ela induz a uma polaridade desnecessária, como se só houvesse a direita e a esquerda, o vermelho e o azul, o certo e o errado. Eu mesma, para me aproximar de uma criança, certa vez questionei: gremista ou colorada? Corinthiana! – ela respondeu, me desarmando.
Acredito que esse tipo de polarização é reducionista e acaba provocando situações desgastantes, em que as pessoas chegam a pressionar o outro para que se posicione a favor ou contra uma determinada situação, ou até desmanchar amizades em função de seus amigos se posicionarem de maneira diferente da esperada, como se houvesse somente dois lados, qualquer que seja a questão.
Ao mesmo tempo, presenciei inúmeras situações de conflito dentro da escola, com crianças contando suas versões para os demais envolvidos (claro que mediados por professores, pois são crianças aprendendo a viver em grupo), ouvindo os colegas e conseguindo aproveitar o momento para resolver juntos, sem ter de assinalar quem estava certo ou quem estava errado, mas identificando algumas ações de ambas as partes que tenham levado àquela situação mais tensa. Também presenciei muito trabalho em grupo em que as ideias eram diferentes e era preciso chegar a um acordo para conseguir produzir algo. Da decisão sobre uma simples cor de caneta a ser usada num cartaz, até uma decisão mais séria sobre qual imagem representa melhor determinado assunto ou quem apresenta qual parte do trabalho. E os laços se tencionavam, se enrolavam, mas também se estreitavam.
Crianças que frequentam um ambiente escolar cooperativo, organizado para incluir e aceitar a diversidade e formar pessoas que possam refletir sobre seus atos considerando os atos dos outros, certamente vão sendo, cada vez mais, capazes de repensar o que significa se posicionar frente às questões cotidianas que surgem ao longo da vida, e que não podem se resumir a “gosto deste, então não gosto daquele”.
“Sai de cima do muro!”, é o que ouvimos, sempre com uma conotação pejorativa, se não temos formulado ou definido um pensamento sobre determinada situação. Os “dois lados” querem sempre um posicionamento a favor de um e contra o outro. Mesmo que a pessoa explique que concorda com algumas ideias de cada proposta e discorda de outras. Em muitas situações não é preciso escolher entre o lado A ou o lado B, podemos simplesmente trocar o disco. Descobrir pontos em comum ou que se complementem e possam gerar um “outro lado” também pode ser uma opção.
Trabalhar o respeito às ideias dos outros e o ouvir com atenção para poder discordar e argumentar sobre seus pontos de vista é saber que a conversa pode nos ajudar a avançar e a abrir ainda mais os olhos para diferentes assuntos. De toda minha caminhada na educação, nunca vi uma criança deixar de ser amiga de outra porque pensou diferente ou porque teve uma situação mais tensa sobre um assunto. Muitas vezes, enquanto a professora proporcionava a reflexão, os primeiros olhares de braveza passavam a ser de cumplicidade, pois juntos resolviam um “problema”. E, logo que a conversa acabava, saíam para brincar e não muito raramente faziam parceria na nova atividade.
Então, você que é azul, respeite o vermelho, e também o verde, o amarelo e o marrom. Se nós, adultos, queremos crianças que saibam resolver situações-problema com conversa, não basta cobrar isso delas, temos de mostrar que nós também sabemos resolvê-las com respeito. Não peça que as pessoas escolham um lado, querendo apoio para suas ideias. Se você realmente está interessado em ouvir o outro e discutir ideias, pergunte algo como “o que você pensa sobre isso?”. E, então, pare, escute, pondere, argumente e respeite. Caso contrário, nem pergunte.