Gostei muito de participar da XXX Feira do Livro da Escola Projeto e quero agradecer a vocês todas pela oportunidade que me deram ao me convidar. Na verdade, por uma série de circunstâncias pessoais (de agenda, idade, saúde), quase não estou mais visitando escolas, sobretudo quando acarretam deslocamentos para longe de casa – como era o caso dessa viagem do Rio de Janeiro a Porto Alegre. Mas fiz uma exceção porque guardava muito boa lembrança de minha primeira visita à Projeto há 16 anos, e porque tenho acompanhado de longe o trabalho de vocês.
Valeu a pena.
Foi bom constatar que continua o mesmo trabalho de qualidade. É uma escola onde a garotada lê com entusiasmo e compreensão. Essa intimidade com a literatura se reflete na qualidade da participação, a começar pelas perguntas pertinentes e variadas dos mais velhos, feitas com espontaneidade mas com ordem, sem que uns atropelassem os outros e mostrando que cada um sabia esperar sua vez de falar, ouvindo antes o colega ou a resposta da escritora. Coisa cada vez mais rara de se encontrar hoje em nosso país. Sinal de um bom trabalho dos professores.
Queria ainda destacar um exemplo concreto – o do ótimo encontro que tive com os bem pequenininhos. Uma faixa etária bem difícil, cujos resultados muito satisfatórios confirmaram a adesão afetiva e vibrante dos menores ao mundo dos livros e às histórias que neles se contam.
Fizeram questão de me mostrar o trabalho deles sobre o “Cabe na mala”, com os personagens do tatu e da cotia, além da própria mala. Lembraram que faltava trazer para a sala a maquete sobre o “De noite no bosque”, que ficara lá fora, e me explicaram detalhadamente tudo o que havia nela, com as alusões aos diversos contos de fadas mencionados em minha história, cheia de intertextualidades. E na parede, a montagem de um imenso painel com “Doroteia, a centopeia” também serviu para me revelar muito do que tinham feito. Além do corpo da personagem em discos de vinil (e me explicaram do que se tratava), as crianças fizeram questão de me mostrar que os pés da centopeia, de cartolina colorida, haviam sido moldados nos pés de cada aluno. Cada um sabia o seu e fazia questão de me mostrar se era o direito ou esquerdo, distinção importante que aprendem nessa idade. Falavam nas histórias, pediram outra, tudo de maneira segura e lúdica. Foi um encanto.
Estão todos de parabéns. Faço votos de que continuem assim. E fico sonhando com o dia em que todas as crianças brasileiras terão a oportunidade de ter uma educação dessa qualidade.
Ana Maria Machado – 3/5/2016
Assista a entrevista para a TV OCTO com a Ana Maria Machado, falando de sua obra e do nosso trabalho e da Diretora Neca Baldi.
https://octooc.com.br/video/cultura/entrevista-ana-maria-machado/