Rubem Penz
Com outros planos para esta crônica, fui atropelado por um tema por demais sedutor. Ainda há pouco, ganhou generosos espaços radiofônicos e preciosas linhas em jornais uma celeuma envolvendo o uso, ou melhor, a cobrança do uso de uniforme escolar numa instituição de ensino de Porto Alegre. Pudera: a contenda foi parar na Delegacia de Polícia, com direito a BO e tudo. Em não poucos lugares do mundo viria a pergunta – Como assim?! Estranhamente, eu não me surpreendi, o que, por si, já seria de espantar.
Antes de mais nada, preciso me posicionar sobre uniformes escolares. Sou a favor. Fervorosamente partidário. Fã. Dentre as diversas vantagens de sua adoção, elenco algumas que julgo incontestáveis:
Eles são práticos: com um pequeno número de peças combinadas, evapora a necessidade de elaboração de figurinos, tópico que pode consumir muito tempo e energia (principalmente para pais de crianças geniosas).
Eles são econômicos: na medida de valores, mesmo quando acima da média, ainda assim representam vantagem. E podem ser adquiridos de segunda mão sem risco de corromper as tendências da moda ou ferir a vaidade – aliás, como valorização do mercado sustentável.
Eles cooperam com a segurança: facilitam demais a rotina dos adultos responsáveis transformando pequenos (e médios) indivíduos em um grupo distinguível.
Eles promovem integração: a uniformização, ainda que de forma simbólica, atua na formação de identidade coletiva, tão útil quando se busca o coleguismo. Unem ao igualar facilitando, inclusive, a reflexão sobre diferenças.
Dito isso, evito ao máximo o impulso de demonizar a mãe que, investida de boa-vontade e em socorro à filha, recorreu à polícia (considerando a menina constrangida ao ser apartada do grupo juntamente com outros jovens e crianças sem uniforme completo – palavra-chave na questão). Atenuo o que considerei ser um enorme exagero ao levar em consideração os tempos confusos pelos quais estamos passando, tão iguais e tão diferentes. Hoje, a crise de autoridade atinge patamares ainda não experimentados.
Todavia, lamento. Lamento muito. O recado da mamãe se opõe a tudo o que a educação preconiza: estabelecimento de princípios, cumprimento de princípios, cobrança isonômica de princípios. A combativa senhora, ela sim, buscou constranger os educadores acusando-os de uma prática discricionária. Nossa, repararam o quanto é simbólico este caso? O quanto suscita reflexão?
Antes do tom de azul nas calças, urge ser uniforme o estabelecimento de medida, de regras, de hierarquia. A presença (ou a ausência) do logotipo na peça de roupa pode vir a ser o símbolo dentro de símbolo, o detalhe que faz a diferença. Diante de nós, se não corrigirmos as linhas, ainda haverá muito pano para a manga.
Também respeito os contrários. Inclusive, sempre gostei que os contrários se manifestem.
Quando eu sei que existem contrários e ninguém se manifesta, é porque me acham tão idiota que não vale a pena discutir. Ou estão me ignorando, como se eu não fosse ninguém. Qualquer uma dessas duas coisas fazem eu me sentir um zero à esquerda.
As vantagens que o uniforme traz são inúmeras. Algumas delas são fortíssimas: segurança, sociabilidade, economia, ajuda no foco da atenção dos estudantes e outros. As desvantagens são poucas e pesam bem menos.
Mesmo sendo absolutamente a favor do uniforme devido à força esmagadora das vantagens, prefiro que o órgão competente para avaliar questões educacionais decida e nos libere para focar nossa atenção no enfrentamento da crise que estamos enfrentando.
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Paulo Ricardo Silveira Trainini