Themiz Preussler Constantino (*)
Início de 2020, expectativa com a escola nova, professora nova, colegas novos, tudo novo: o tão esperado 1º ano do ensino fundamental! Para nós – pais da aluna nova – não seria tudo tão novo assim, enquanto a primogênita saía a caçula entrava na Projeto, nossa velha e querida conhecida. Sabíamos tudo o que esperar naquele 1º ano, as descobertas que faria, as surpresas que ela teria, as experiências que viveria na casa da José Bonifácio. Sabíamos? Achávamos que sabíamos!
As primeiras semanas lá na escola foram de muita novidade. Cada dia ela tagarelava algo que tinha vivido por lá: os professores que conheceu, os colegas com quem brincou na corda bamba, as atividades que fez na sala de aula, os livros que viu na biblio… Quanta coisa ela estava vivendo dentro do ambiente escolar!
E o coronavírus chegou trazendo a pandemia e o confinamento. O que era “de dentro da escola” virou “de dentro de casa”. A escola agora era dentro da tela. Tudo virou uma “nova novidade” para ela e aquela nossa velha conhecida se tornou uma grande novidade para nós também.
Quantas expectativas frustradas para todos nós. Se sabíamos tudo o que ela viveria dentro da casa da unidade 2, estávamos agora sabendo tudo o que ela perderia vivendo seu 1º ano escolar dentro da tela. E veio o 2º ano e a esperança da escola ser vivida do lado de dentro não se concretizou. A profe, os colegas, as aulas especializadas, o recreio… tudo dentro do quarto, dentro da tela.
Volta e meia me pergunto: “e dentro dela?” Como está tudo isso dentro dela? Como está a escola dentro dela? Como se dá dentro dela uma relação que ela aprendeu a viver através da tela?
E ela me responde, quando a escuto pedindo para o Rafa do teatro se pode ir ao banheiro, quando ela sai cantarolando pela casa as músicas que aprendeu com o Ianes, quando ela me conta a história que leram com a profe, quando ela fica feliz de conhecer, junto conosco, através da tela, a escritora do ano, quando ela me mostra as árvores na rua e me conta o que é um Ipê Amarelo, um Plátano, um Jacarandá, visto na aula online de ciências.
Dentro dela tem uma Projeto cheia de vida, toda a vez, quando temos a expectativa de retorno para dentro da casa da José Bonifácio, ela me pede para voltar e diz que vale muito a pena acordar cedo para ir a aula de dentro da escola mesmo que seja por poucos dias, caso o coronavírus não deixe mais.
Ela sabe que está longe de ser como as aulas presenciais, mas, com tudo isso, está aprendendo a reconhecer que o que está vivendo do lado de dentro da tela está sendo o que é possível para o momento, momento que seguirá construindo e elaborando dentro dela.
(*) Mãe da Melissa, aluna do 2ºano da escola, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta de Orientação Analítica.