Bruna Meneghetti (*)
Nestes tempos de distanciamentos e saudades, desenvolvi um novo hábito. Passei, primeiro de forma espontânea e aleatória e depois de forma intencional, a cuidar das plantas da casa. Em um desses dias de inspiração despretensiosa e com um vaso de flores sobrando, tomei a iniciativa de espremer um tomate-cereja já meio murcho naquela terra que estava ali, sem propósito. Quem sabe, por sorte, surgissem dali frutos.
E qual não foi a minha surpresa quando, uns dias depois, apareceram pequenos raminhos, tímidos e discretos. Desse dia em diante, passei a dedicar cuidados e esforços para ver crescer meu pé de tomatinho-cereja.
Já são 60 dias de isolamento, talvez um pouco mais quando o texto for publicado. E, como nos domingos que passaram, a manhã de hoje é dedicada aos cuidados do plantio. Meu pé de tomate já cresceu bastante, está vistoso e perdeu aquela timidez inicial, deve ter aproximadamente 50 centímetros.
Para chegar a essa altura, quando ainda estava se fortalecendo e criando raízes precisei amarrar, gentilmente, um palito de madeira, daqueles de churrasquinho mesmo, ao lado de seu caule para que tivesse suporte e apoio para crescer mais ainda. Ao longo dos dias, percebi que já não era suficiente: o caule envergava demasiado! Era o peso de suas folhas. Então, precisei aumentar o sustento. As regas tornaram-se diárias, quando em dias quentes, necessárias mais de uma vez: ao amanhecer e ao cair do sol.
Observando diariamente meu plantio, e na expectativa dos frutos, passei a refletir e não pude deixar de comparar o cuidado e os esforços dispensados aos tomates com os processos de ensino-aprendizagem que ocorrem na escola e, nos dias atuais, virtualmente. Para alfabetizar é preciso dedicação, intencionalidade, observação e análise. É o cuidado diário e o olhar atento que fazem acontecer. São as perguntas certeiras que provocam reflexão. É o espaço para criar e o suporte para crescer que são fundamentais. O ombro, o abraço e o colo para se apoiar.
O(a) professor(a) está ali, diariamente, construindo suas ações de acordo com cada avanço, com cada necessidade, criando e pensando em possibilidades que tornem todo e cada momento significativo. Trabalha com um grupo, mas pensa nas singularidades. E comemora, como se fossem seus, cada novo desafio vencido.
É, o texto veio para acalmar a saudade, mas dele surgiram outras tantas…
(*) Professora do 1º ano/turma 12 da Projeto.