Rubem Penz
Estávamos na mesa do bar entre amigos e transcorreu uma estranha competição:
– Conheço o André desde 1971, quando fomos colegas na primeira série – disse eu.
– Pois eu – respondeu Lucinha – desde o jardim!
Lembrando disso, pensei em meus próprios filhos: quais serão os amigos que eles terão por perto em algum dia do futuro, dos quais poderão dizer algo semelhante? Será com a mesma alegria? Com a mesma intimidade, aquela só possível quando vemos a criança já tão profundamente afastada pelo tempo vindo para a superfície do instante?
Desconfio que sim. Afinal, por coincidência de nomes (dois “Rubem”), muitas vezes sou abordado por senhores sorridentes que se apressam em dizer que foram colegas do meu pai. E contam reminiscências, falam dos professores, de como era naquele tempo. Passam uma saudade alegre e notam o quanto faz bem a mim ouvir seus relatos.
Enquanto estamos na escola, especialmente nos anos iniciais, essa dimensão jamais passa pela cabeça. O futuro (a juventude, a idade adulta, a madureza) são instâncias para as quais nos falta alcance. Também não fazemos a menor ideia de o quanto o período formador será alicerce para construirmos nossa própria identidade, ou o quanto essa identidade individual será semelhante quando confrontada com o “espírito de geração”.
Hoje, com a filha caçula deixando o ensino médio e o mais velho em meados do curso superior, parece que apenas eu tenho saudade dos momentos em que, pequenos, costuravam suas primeiras teias sociais na Escola Projeto. Impactados por intensas ondas de juventude, custarão um pouco para nadar de braçada nas águas das lembranças. Em silêncio, aguardo a oportunidade de vê-los encontrar seus amigos no futuro, e testemunhar a alegria inundar seus corações. Bem como em nossa estranha competição na mesa de bar, eu e a Lucinha, medindo a antiguidade das relações com o André.