Betina Moura Santos (*)
Outro dia, no final de setembro deste ano de 2021, 18 anos depois de concluir a 4º série e sair pela última vez pelos portões da Escola Projeto, entrei novamente acompanhada pela nossa querida Beth Baldi, cheia de nostalgia e de boas memórias.
Me recordei, principalmente, de como foi assustador migrar de lá para outra escola com métodos de ensino tão diferentes. Com poucos dias no novo colégio reparei no fato de não termos o horário da biblioteca. Após uma semana de aula, cheguei em casa espantada: “Mãe, até hoje a gente não foi na biblioteca!!!”. Instigada desde nova pela Projeto e pela minha mãe, a leitura sempre foi – e segue sendo até hoje –, como já diria Drummond, fonte inesgotável de prazer.
Com o tempo constatei que o importante nesse novo colégio era tirar boas notas, sendo pouco relevante se ali havia aprendizado ou não. Se passava por média ganhávamos até bombom, em uma cena patética e constrangedora em que eram chamados – durante o período de aula – somente os alunos aprovados no semestre, deixando em sala aqueles que iriam fazer as provas de recuperação. Curioso constatar que aqueles considerados “alunos ruins” contrariaram todas as (quase inexistentes) expectativas neles depositadas pela escola. Um em especial, considerado “sem futuro”, pois todo ano passava “por um fio”, atualmente viaja o mundo como fotógrafo, já tendo sido premiado internacionalmente em Cannes.
E foi nesse espaço que me encontrei rodeada de pouca leitura (literária), sem aula de música, curtos exercícios físicos e com raros passeios a museus ou parques, mas, sobretudo, com tempo de sobra sentada em sala de aula ouvindo professores falando sobre as matérias que “seriam importantes futuramente para o vestibular”.
Refletindo sobre isso hoje percebo o quanto nossos métodos de ensino estão preocupados em nos fazer decorar fórmulas, datas e nomes de colonizadores, deixando de lado questões que nos moldam como cidadãos pertencentes a uma coletividade. Nosso contexto sócio-político atual escancara tal circunstância.
Ensinam a passar no vestibular e a ter um diploma, mas será que educam?
Uma coisa eu garanto: não faço uso da fórmula de Bhaskara, porém carrego até hoje ensinamentos da Projeto comigo. Aprendi sobre respeito aos colegas, sobre a inclusão daqueles considerados “diferentes”. Sobre arte, música e leitura, sempre tão desvalorizados. Aprendi até mesmo sobre a importância de separar o lixo seco do orgânico.
Quem sabe se esse tipo de educação permanecesse sendo transmitido também no decorrer do 5º ano até, pelo menos, o final da faculdade, não estaríamos vivenciando outro cenário?
Saramago, em “A maior flor do mundo”, foi certeiro:
E se as histórias para crianças passassem
a ser leitura obrigatória para os adultos?
Seriam eles capazes de aprender realmente
o que há tanto tempo têm andado a ensinar?
(*) Ex-aluna da Projeto (4ª série/2003), hoje Advogada.