Julio Cesar Walz (**)
Proponho uma reflexão, neste texto, a partir da pergunta: Escola e Famílias são entidades antagônicas? Elas disputam “poder”?
E trago algumas ideias iniciais como possíveis respostas: depende do prisma que olharmos. Caso sintamos que a escola seja uma “ladra” ou “corrompedora” ou um ambiente hostil para os filhos, e que tem um modus operanti que a família não concorda a priori, aí podemos imaginar que sim, que são antagônicas. No antagonismo o diálogo é bélico e a conversa se perde. Restará a disputa e o aumento da desconfiança, e tudo alimenta o antagonismo. Agora, caso imaginemos que a escola seja um acréscimo à vida dos nossos filhos, o qual a família não pode ser, mas apenas oferecer (a escola), aí são continuidades. Não disputam poder. O diálogo é possível.
O fato é que ambas precisam conviver. E em todo convívio circula amor e ódio, solidariedade e ilusão de poder. O convívio humano, de qualquer natureza ou instância, sempre é muito difícil. Todos sabemos, vivemos e sentimos isso. O convívio proveitoso sempre é algo que precisa ser construído e administrado para se ter algum grau de satisfação, solidariedade e respeito. E para mim, num grau cotidiano e imediato, esse é o ponto central da relação entre escola e família.
A questão é como. Como conviver melhor? Com a construção de uma confiança recíproca. Quando a confiança se perde ou fica abalada, a desconfiança (paranoia) assume esse lugar. E, nesse lugar de paranoia, a palavra verdadeira que busca descobrir melhor, conhecer melhor e construir saídas se perde. Na paranoia (desconfiança) fica-se com a certeza dos próprios pensamentos e o diálogo morre. Fecham-se as portas para a construção de defesas e ataques. A guerra fica inevitável. E todos saem perdendo uma vitalidade (sangue), desnecessariamente. Mas esse lugar de luta é fascinante, saibamos. Ficamos com a sensação da certeza e da vitória. Na posição de não disputa ou antagonismo, ficamos humanos e temos que resolver os dilemas dialogando, renunciando às certezas do pensamento, para interagir com o outro, nosso interlocutor.
A relação entre escola e família tem muitos aspectos envolvidos, obviamente. Mas penso que um ponto de partida para as situações cotidianas é diagnosticar e tentar vencer a desconfiança/disputa/paranoia. E só tem um jeito: construindo uma relação de confiança. Algo muito complexo e difícil, ainda mais em tempos de whatsapp e fake news, que ampliam nossas certezas e o sentimento de poder. Os grupos de whats ficaram como a brincadeira antiga do telefone sem fio. No segundo emissor a mensagem tende a estar distorcida ou ser recebida distorcidamente. Mas como alguém disse, pensamos, deve ser verdade.
E como construí-la? Cada escola deve achar esse formato próprio com as famílias e vice-versa. Isso precisa ser construído e reconstruído. Esse código de convívio e confiança precisa de canais estabelecidos de comum acordo para o diálogo. E quando essa confiança ficar “abalada” o ideal seria os dois lados reconhecerem que a desconfiança se apossou dessa relação e buscarem o diálogo do esclarecimento. As certezas da necessidade da guerra de um contra o outro precisam ser vencidas internamente, dentro de nossas mentes. O que não é fácil. Nossa mente, quando iludida com a certeza, fica fascinada por essa certeza e se ensurdece. Ainda mais se o outro lado for tomado como um inimigo ou uma ameaça.
(*) Texto escrito especialmente para o nosso blog. Obrigada, Julio!
(**) Psicólogo/Psicanalista, autor do Livro “Cuidar não é Educar” (à venda na Livraria Paralelo 30 e no site da Editora Sinodal) e do Podcast com o mesmo título, e pai de ex-alunos da Projeto.