Artur Gomes de Morais
Quando eu era criança, na escola, escrevíamos “redações”. Hoje, felizmente, meus netos escrevem textos. Sim, muito mudou e creio que para melhor.
As tais redações eram bem limitadas. Primeiro, porque tinham temas maçantes, repetitivos. Podemos lembrar de títulos tão pobres como “A árvore, nossa amiga” ou “Minhas férias”. Se pensarmos bem, “redação” é/era algo estritamente escolar: só existia na escola, só se fazia como tarefa.
Sim, escrevíamos para sermos avaliados. O professor ou a professora eram os únicos leitores de nossos escritos. Como tínhamos medo do lápis vermelho, caprichávamos na caligrafia, evitávamos errar e dizíamos coisas edulcoradas, bem artificiais ou caricatas, com o intuito de agradar nosso(a) algoz. Produzíamos discursos edificantes, falsos como notas de três reais.
Lembro ainda de umas tais “descrições” que fazíamos no primário. A professora expunha uma gravura estática e cabia a nós escrever “tantas linhas” sobre a cena em foco.
Para a maioria dos aprendizes escrever era, portanto, muito chato. Eu, por sorte, gostava e, lá pelos 9 e 10 anos, enviava, semanalmente, uma história para o suplemente infantil de um jornal de Recife. Mas tinha muitos colegas que sofriam quando tinham que escrever.
Afortunadamente, a partir dos anos 1980, no que os linguistas chamam de “virada pragmática”, passamos a tratar com mais zelo a tarefa de escrever na escola. Nossas crianças e jovens passaram a escrever textos reais, que existem no mundo real. Ao lado de poemas e histórias, passaram a poder produzir gêneros textuais tão variados como cartazes publicitários, histórias em quadrinhos, notícias, convites, verbetes de enciclopédia, informativos científicos etc.
Se olharmos os atuais livros didáticos de português, vemos que, via de regra, os alunos escrevem ao final de cada unidade ou capítulo do livro, só depois de terem se familiarizado com o gênero que vão compor, porque leram bons textos daquele mesmo gênero, escritos por autores profissionais.
Quando uma escola adota a pedagogia de projetos, os textos ganham ainda mais autenticidade, porque refletem os saberes produzidos pelos alunos que, durante um bom período, estiveram pesquisando, produzindo conhecimento.
Nesse caso, torna-se imperativo compartilhar os escritos. E “embelezar”, com cuidadosa edição final. Assim, faz sentido revisarmos o que escrevemos. Porque nossos textos se tornam públicos e são lidos, não constituem mera tarefa para ser avaliada.
Que bom que muitos aprendizes passaram a viver a escrita como ato de autoria e prazer! Que bom que na escola de meus netos escrever é algo mais sincero e gratificante!
Ai que lindeza de texto! 🙂
Artur, obrigada por este texto. Que possamos ter mais escritas autorais em nossas vidas e que essas escritas possam fazer diferença no modo como as escolas tratam as diferentes possibilidades de produções textuais. Abraço