Bruna Meneghetti, Larissa Ferreira e Virgínia Veríssimo (*)
O desenvolvimento da alfabetização é a aprendizagem de um sistema linguístico que favorece diferentes habilidades como ler, escrever e interpretar textos, entre outras. Entendemos que é um processo longo e gradativo, que se inicia logo nos primeiros anos de vida, quando a criança está inserida em um mundo letrado, no qual são apresentados livros (entre outros portadores de texto) e propostos diálogos, criando um repertório de linguagem nas relações entre pares, familiares e pessoas do seu convívio.
Aqui na Escola Projeto, as crianças do 1º ano são convidadas a participar de atividades diárias que envolvem o conhecimento da língua, por meio da leitura, das brincadeiras e jogos de alfabetização, dos registros sobre suas descobertas e estudos e de diferentes sistematizações do que lhes foi apresentado. Todas as abordagens são pensadas com grande atenção e cuidado, para serem apropriadas e adequadas às diferentes hipóteses de alfabetização em que se encontram as crianças do grupo (1). Existem diversas formas de estimular a participação das crianças como protagonistas nessas propostas, a fim de que sejam momentos significativos e envolventes.
Sabemos que as crianças não se alfabetizam no mesmo ritmo, pois têm experiências variadas e algumas podem encontrar barreiras para desenvolver a escrita e a leitura. Diante disso, um olhar especial para cada caso é extremamente importante e valoroso para identificar as causas de alguma dificuldade de aprendizagem e buscar as melhores estratégias e recursos para superá-la. É importante oferecermos diferentes formas de contato das crianças com a alfabetização, para que cada uma delas possa se sentir desafiada a colocar em prática seus jeitos de pensar a escrita e a leitura, impulsionando seu aprendizado.
A disposição das mesas, para que possam interagir com colegas em diferentes níveis (mais avançados ou anteriores), é também uma forma de potencializar seus conhecimentos e processos, a partir de jogos e registros em pequenos grupos ou coletivos, exploração de materiais trazidos pela professora e/ou confeccionados pelas próprias crianças, dentre outras propostas. O importante é que possam testar suas habilidades e aprofundar suas investigações em situações desafiadoras, nas quais expressem descobertas e dúvidas, porque é nesse contexto que podemos observar novas possibilidades para suas progressões.
O contato sistemático com livros de literatura, bem como com diferentes tipos de textos informativos, aliado a boas propostas de sistematizações e intervenções do adulto que está atento e acompanha a turma, fazendo com que as crianças possam refletir sobre a escrita e a leitura, também é imprescindível na construção de um bom repertório.
Esse processo tem como marco o primeiro ano, mas sabemos que inicia bem antes, a partir do universo letrado que já envolve as crianças desde a educação infantil, e se conclui somente no final do segundo ano. Consideramos, ainda, que, além da aprendizagem do sistema de leitura e de escrita, ele também envolve a compreensão e a interpretação dos textos, o estabelecimento de relações entre as ideias e as inferências a partir do que leem.
Nosso objetivo é propiciar um ambiente em que as crianças não tenham receio de experimentar e de se arriscar, criando condições para que elas percebam a necessidade e tenham vontade de usar o recurso da escrita.
A nossa equipe do 1º ano costuma viver momentos de grande satisfação ao acompanhar os avanços das crianças e o desenvolvimento do gosto pela escrita e pela leitura! Isso se evidencia no momento em que elas se interessam mais pelas leituras na sala de aula e na biblioteca, buscando aquelas de sua preferência, e quando as próprias crianças se surpreendem com a quantidade de livros retirados durante o ano. Também é muito prazeroso quando observamos que as crianças começam a produzir poemas, bilhetes e textos diversos, de forma espontânea, com a intenção de presentear colegas, professoras e familiares, usando a escrita para comunicar seus sentimentos e demonstrar suas elaborações e seus pensamentos, de forma independente. É todo um super esforço conjunto, das professoras e das crianças, com o apoio dos familiares, que atinge seu ápice, quando, com autonomia, elas se aventuram a se expressar por escrito!
(*) Bruna e Larissa são Professoras do 1º ano na Projeto e Virginia é Coordenadora Pedagógica da série.
(1) Segundo as pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky, em Psicogênese da língua escrita, essas
hipóteses são concepções que as crianças vão construindo sobre a língua escrita e o sistema alfabético, à
medida em que observam seus usos e características e que tentam entendê-los. São elas: hipótese pré-
silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética.