Leo Cunha
No mês de maio de 2024, em meio à grande tragédia que abateu o Rio Grande do Sul, os alunos da escola Projeto leram minha obra “O livro dos talentos” e, a partir dali, passaram a debater e pesquisar os tantos talentos que se destacaram no estado, na reação da sociedade às inundações: os médicos, os cientistas, os bombeiros, os voluntários etc.
Foi uma iniciativa talentosa, também, essa da escola. Para a Projeto, a leitura de um livro literário é um momento de prazer, de fruição da arte narrativa, poética e visual, mas é muito mais. É também uma oportunidade para pôr tal livro em diálogo com o mundo, com a realidade ao redor, com as ideias e reflexões que a obra suscita e estimula.
Citei aqui o que a meninada fez especificamente em torno de “O livro dos talentos”, mas atividades tão ricas e criativas foram desenvolvidas, ao longo do primeiro semestre de 2024, com dezenas de outros livros meus, tais como “Um dia, um rio”, “Cantigamente”, “O livro maluco das poções mágicas” “Cachinhos de prata”, “Lápis encantado”, “Rabos, rabichos e rabiolas”, “Piolho na Rapunzel” e outros tantos.
Por conta de toda a destruição causada pelas inundações, não tive como visitar pessoalmente a escola, em maio, como estava previsto. Mas fiz encontros on-line com a meninada (e assim fiquei sabendo de muita coisa que escrevi acima), e estou planejando uma visita em novembro, no período da Feira do Livro de PoA, para lançar o livro “Os relógios”, que escrevi em parceria com Celso Gutfreind, escritor gaúcho que também é muito querido na escola.
Esta foi a segunda vez que tive a honra e a alegria de ser escolhido como o “Autor do ano”, na Projeto. A primeira vez, há quase 20 anos, resultou em tantos projetos e atividades criativas que virou o eixo para o ótimo livro da Beth Baldi, “Leitura nas séries iniciais – uma proposta para formação de leitores de literatura”.
A diferença é que, naquela época, eu tinha cerca de 20 livros publicados, e agora já passei dos 80 títulos, o que garantiu um material muito mais amplo e diversificado para os atuais alunos e professores. Contos curtos e mais longos, prosa poética e mais solta, poemas visuais e outros mais tradicionais, quadrinhas, adivinhas, palindromos etc e tal.
Ser “Autor do ano” da Projeto significa que, durante aquele período, toda a escola se envolve com seus poemas e suas histórias. Com isso, cada aluno lê cinco, dez livros meus, ou até mais! Imaginem que delícia, para o escritor, saber que sua obra está circulando dessa forma, com cada livro cutucando o outro, iluminando, expandindo, contrapondo.
O escritor russo Liev Tolstoi escreveu, lá no século XIX: “há pessoas que passam por um bosque e só veem lenha para a fogueira”. A Escola Projeto, seus diretores, professores e alunos, felizmente fazem o contrário: diante de um bosque, veem os frutos, ouvem os cantos, sentem os aromas, lembram o passado, abraçam o presente e tocam o futuro.
É a literatura como farol, como alimento, como oxigênio. Que felicidade fazer parte desse projeto!