Cristine Zancani e Fernanda Lantz (* )
Durante o mês de setembro, após um recesso de duas semanas, o Mães de Quinta voltou em mais duas edições para encerrar seu ciclo. Com a mesma dinâmica da edição anterior: um assunto servindo de base para iniciar a conversa, podendo, a partir dele, entrar por veredas diversas. E, sim, muitas veredas foram exploradas. Este texto recupera alguns desses caminhos.
Na noite de 10 de setembro, o tema do nosso encontro foi: que mudanças queremos manter em nossas vidas pós pandemia? Uma percepção geral nessa noite foi a de como temos consumido menos nesse período que tivemos pouco acesso à rua. Na chegada de uma nova estação, por exemplo, corríamos para comprar roupas para as crianças – de modo automático. Nesse inverno, nossas crianças se viraram com as roupas que já tinham. Algumas peças um pouco mais curtas ou mais justas, mas ainda dando conta do recado. De várias maneiras, esse tempo deixou evidente que a gente consome mais do que necessita.
Também nos chamou atenção o quanto era imensa a pressão estética para muitas de nós. Nossas unhas ficaram nuas de cor. Nosso cabelo, idem. Teve quem experimentou cortes de cabelo em casa, muito à vontade, sabendo que, em caso de erro, daria tempo do cabelo crescer. Algumas de nossas crianças também pegaram a tesoura sem ponta, adormecida no estojo da escola, para cortar o próprio cabelo. Nunca dá errado pra elas: mesmo quando dá muito errado. E que bom! A sensação experimentada depois de um momento “faça você mesma/mesmo” é única. Na quarentena, vivemos essa sensação muito mais vezes: experimentamos novas receitas, consertamos coisas em casa, improvisamos sempre que precisamos de algo ou de alguma ajuda que estava longe do nosso alcance.
Ver os filhos e filhas crescendo de modo tão próximo foi um ganho desse período. Estreitamos laços que já eram estreitos. Criamos uma rotina para viver um espaço comum, dividindo esse espaço em muitos outros: casa, escola, trabalho, lazer. Aprendemos uma nova convivência. Nos reorganizamos, em família, na divisão de tarefas domésticas. Ainda assim, muitas mulheres seguem organizando sozinhas a logística geral da rotina. A carga mental não foi aliviada. Quando será?
Muitas de nós, para segurar todas as barras que esse momento exigiu/exige, passaram a se questionar sobre o que é realmente essencial. Viver mais conectada ao essencial e dando conta dele é a lição que gostaríamos de levar para o futuro. Mas que futuro será esse? Esse foi o tema do nosso encontro da semana seguinte.
No dia 17 de setembro, conversamos sobre: como planejar um futuro sem quando, nem como?
O tempo nessa quarentena foi um capítulo à parte. Quantas vezes, vivemos os dias pensando na rotina que tínhamos no passado ou com a expectativa de futuro em mente. A palavra “quando” virou tempo verbal de esperança. Constantemente, a gente faz algum plano que começa por: quando tudo isso passar…
Se pensamos muito no passado e no futuro é porque nunca estivemos tão presas no presente. Um presente estendido, longo. Ao contrário do que possa parecer, no entanto, neste aqui e agora infinito, mal temos tempo para realizar nossas demandas diárias. Temos vivido nossas tarefas pessoais e profissionais; as tarefas da casa e o cuidado das crianças, simultaneamente.
Comentamos nessa noite que, se é verdade que nosso trabalho aumenta muito tendo crianças em casa, é também verdade que, graças a elas, nós reinventamos a esperança diariamente. Graças aos nossos filhos e filhas, a gente insiste em sonhar o futuro. Enquanto sonhamos, ele é tecido.
O Mães de Quinta termina com a certeza e a beleza da importância dos encontros de fala/escuta entre mulheres/mães. O Mães de Quinta agradece o carinho e o incentivo da escola para que o evento ocorresse. O Mães de Quinta agradece, principalmente, todas as mulheres que participaram. O Mães de Quinta agradece todas as crianças que apareceram no meio dos encontros, querendo atenção de suas mães. O Mães de Quinta está convencido de que um evento para mulheres, sempre que possível, deve pensar alternativas para abrigar crianças – porque um evento que fecha a porta para crianças, fecha a porta para a participação de mães. Sem a aparição inesperada das crianças, esse evento estaria incompleto. Sem a aparição inesperada das crianças, não seria um evento de mães no meio de uma pandemia.
(*) Mães de alunos(as) da escola.