Beth Baldi
Adoro essa frase do músico e compositor Vitor Ramil, que compõe o título do ótimo livro de Luís Rubira sobre ele (1). Quando ele diz, ao apresentar seu 7º disco, Longes,
“Algumas coisas pude realizar aos 20 anos. Outras tiveram de esperar que eu chegasse aos 40. É o caso deste disco. Nascer leva tempo”
(2), imediatamente me remeto à trajetória da escola, pensando no quanto se assemelham o Vitor e a Projeto. Não só no tempo em que seus nascimentos vêm acontecendo – Vitor com 37 anos de carreira, a partir de seu 1º disco de 1981, e a Projeto chegando aos 30 anos de fundação –, mas sobretudo nos processos vividos, nos sentimentos experimentados, nas posturas de exigência consigo mesmo e de investimento constante em seus sonhos.
Ainda que seja sua fã há bastante tempo, acompanhando e curtindo seus cds e shows, foi através do livro de Rubira, assim como de tantos outros materiais que li, vi e ouvi recentemente sobre o músico convidado da escola deste ano (incluindo livros de sua própria autoria, entrevistas e, claro, suas canções todas), que pude perceber o quanto Vitor é intenso em tudo que faz, se coloca inteiro em cada projeto e só faz aquilo em que acredita. Reconheço nesse modo de ser a própria Projeto, também inquieta e sempre indo atrás de algo melhor, fiel a si própria e ao seu público.
Esses “mergulhos”, necessários ao trabalho a ser realizado com alunos e alunas de todas as turmas – os quais acontecem em relação à obra e à trajetória de cada artista estudado -, têm oportunizado que equipe e estudantes aprendam muito e valorizem ainda mais os nossos artistas e suas respectivas obras, admirando as trajetórias que constroem, não sem crises e dificuldades, mas também com grandes alegrias e realizações, por sua garra e talento.
Assim também, no caso de Vitor Ramil, buscamos entender um pouco mais sobre seu processo criativo e sobre questões que o moveram ao longo de sua caminhada até aqui. Entre elas, a busca permanente e incansável pela sua própria identidade artística, a qual o levou a rejeitar caminhos mais fáceis e a formular a ideia da chamada “Estética do Frio”, que situa a cultura sul-riograndense (quase sempre complexada em relação à cultura do centro do país) “no centro de uma outra história”, ligada aos vizinhos do Prata através de toda uma paisagem geográfica e sonora comum, que inclui a milonga, incorporada à sua obra.
A escola, igualmente, precisou enfrentar momentos de questionamentos e crises variadas, buscando construir e fortalecer uma identidade e cultura que fossem coerentes com suas concepções e valores e que, ao mesmo tempo, encontrassem seu público, através de propostas e ações que revelassem a seriedade e o compromisso com que sempre se colocou diante da tarefa de educar. E o fez, como Vitor, com muito estudo, leitura, reflexão, autocrítica, seriedade, interação com especialistas admirados e esforço de todos que estiveram na equipe ou por perto, movida pelo desejo de chegar a resultados que a satisfizessem de forma mais e mais plena, reinventando-se a cada etapa.
Da mesma forma que a Projeto contou sempre, nessa caminhada, com profissionais super engajados que, literalmente, vestiram a camiseta da escola, contribuindo para o aprimoramento de sua proposta, e com alunos(as) e pais parceiros e envolvidos, o Vitor teve ao seu lado seu público ávido de inovações, sua família, seus amigos e os músicos e parceiros que admirava e que o admiravam. Sim, eles nos ajudaram a nascer e são parte do que somos hoje.
E assim vamos, ambos, seguindo e renascendo, não menos inquietos, mas talvez podendo curtir com maior plenitude os momentos de realização. Sem perder tempo, mas já não com tanta pressa (3). Certamente essa possibilidade de desfrutar dos resultados de tanto empenho, e de certa maturidade profissional, não impedirá que sigamos avançando nas nossas respectivas obras.
É o que esperamos e desejamos, convidando alunos, alunas e suas famílias, assim como toda a equipe, colaboradores e parceiros, a iniciarem este novo ano letivo com muita disposição para acolher, aprofundar e retribuir as aprendizagens, descobertas e amizades que vierem. E, ainda, com muita energia para comemorar conosco o aniversário de 30 anos!
(1) Vitor Ramil, Nascer Leva Tempo, Ed. Pubblicato, 2015. Saiba mais sobre o livro em:
(2) Registro em matéria assinada por Juarez Fonseca, na Revista Aplauso, nº 59, de 2004.
(3) Aqui parodiamos a frase “Não perca tempo, mas não tenha pressa”, de Saramago, também citada no referido livro.