Beth Baldi (1)
As rodas de conversa entre as famílias da escola e a psicóloga Gabriela Filipouski (2) foram muito especiais, como momentos de interação e troca entre pais e mães de crianças da escola, mesmo tendo acontecido de forma online, pelo Zoom.
Começaram no final de abril de 2021, em grupos separados (famílias do infantil e do fundamental), quando a escola estava voltando ao modo presencial, depois de uma nova interrupção no início de março, que fez o começo do ano acontecer no modo virtual. De junho até novembro, passou a reunir familiares de alunos(as) da educação infantil e do ensino fundamental juntos, abordando, ao longo do ano, vários temas: Saudades dos amigos, da escola, da família; Cuidar de quem cuida; Características do desenvolvimento dos(as) alunos(as) maiores; Educação na primeira infância; Relação das crianças e seus(suas) responsáveis com a internet, os jogos eletrônicos, os animes etc.; Rotina e sua importância para as crianças; Crianças, telas e internet – dificuldades com limites e possibilidades de curadoria; Construção da autonomia; Pensamento crítico na infância; Desenvolvimento infantil e Sinais de sofrimento na infância.
A cada encontro, em que tive o privilégio de participar como mediadora, diferentes familiares apareciam, variando talvez em função do assunto ou da disponibilidade em determinada data. Mesmo havendo momentos em que recebemos uma ou duas pessoas apenas, algumas presenças foram agradavelmente assíduas. De qualquer modo, a conversa sempre fluiu, a partir de apresentações breves, à medida em cada pai ou mãe chegava, e da introdução ao tema pela Gabriela, que algumas vezes incluiu vídeos curtos (de 2 a 3min), especialmente escolhidos para a ocasião (3). E, assim, foi possível que esse espaço oportunizasse, como era seu objetivo, o diálogo e a valorização do bem-estar emocional, contribuindo para a qualificação da convivência entre as famílias, que viveram e vivem tantas mudanças de rotinas na casa, no trabalho, no estudo e na vida social, nestes últimos tempos.
Através das conversas, muitas dúvidas, ansiedades, sugestões, dores e alegrias foram compartilhadas, em momentos de fala e escuta, de perguntas e respostas, às vezes de desabafo e sempre de acolhimento entre todos(as), tendo muito mais a perspectiva de construir entre pares alternativas e possibilidades diante dos desafios vividos, do que a intenção de trazer receitas ou conselhos.
Assim, pensamos, por exemplo, que, apesar de nossas crianças serem pequenas ainda para usar celular, seria preciso, naquele momento difícil de isolamento, flexibilizar para que pudessem amenizar as saudades dos(as) colegas. Que, mesmo sem certezas, mas com afeto e verdade, seria importante os(as) adultos(as) assumirem suas dificuldades e as dividirem, assim como reconhecerem e acolherem, através do “eu também…”, os sentimentos das crianças, auxiliando-as a falarem sobre eles. Que, ainda que seja difícil aceitar, somos adultos(as) imperfeitos(as) e não sabemos tudo, mas podemos ajudar as crianças, nos ajudando também. Que, sendo inevitável as crianças se frustrarem (e nós adultos também), o mais importante é poderem/podermos falar sobre o que acontece e tentar aprender com a situação, transformando esses momentos difíceis em possibilidades de crescimento emocional.
Sobre o tema das telas, que ia e vinha em diferentes encontros, compartilhamos a preocupação com o acesso avassalador de todos(as) – pais, mães e crianças -, que estava muito além daquilo que seria recomendável. Mas também fomos descobrindo, com os depoimentos que chegavam e reflexões que íamos conseguindo construir, que, além da flexibilidade nos parâmetros, tendo em vista as circunstâncias especiais vividas, era necessário ter muita paciência e disponibilidade para ouvir as crianças, ver com elas, estar perto/junto, tentando avaliar, negociar e combinar o que era possível liberar e em que momentos. Nos demos conta, ainda, de que essas ações e vivências poderiam ser fundamentais, por um lado, na construção de uma visão crítica das próprias crianças a respeito do que consomem, vinculando nossa atitude como adultos(as) mais ao cuidar (tão importante!) do que ao vigiar. Por outro lado, poderiam levar a escola, como instituição, não só a se abrir mais para as possibilidades de uso da tecnologia, superando resistências, mas a se apropriar de fato dela, a ponto de poder construir com ela novas alternativas de ensino e aprendizagem.
Outros assuntos, como autonomia e desenvolvimento infantil, também renderam boas conversas! E, ainda, ao longo dos encontros, conseguimos trocar indicações de livros/autores(as), filmes, jogos, podcasts e páginas interessantes para seguir nas redes sociais (4). Enfim, muitas oportunidades para diferentes tipos de aprendizado.
Obrigada às mães e aos pais que puderam estar junto com a gente em mais esta iniciativa e que trouxeram sua palavra, permitindo novas reflexões e entendimentos sobre os momentos vividos.
(1) Diretora pedagógica da Escola Projeto, participou como mediadora nas rodas de conversa com as famílias.
(2) Gabriela, coordenadora das rodas de conversa, é também mãe do aluno Bernardo, do 3º ano/2021 da escola.
(3) Os vídeos foram selecionados dentre as chamadas “pílulas” do filme “O começo da vida”, que podem ser encontradas neste link: https://ocomecodavida.com.br/tag/pilulas/. O filme completo – este 1º e o 2º também, intitulado “O começo da vida 2 – lá fora” – estão disponíveis no Netflix e valem muito a pena!
(4) Exemplos: @repensarinfancia @vera.iaconelli @pediatriaintegralbr e podcast “Criar com ciência”, para pais e cuidadores de crianças, com duração de 15 a 25 minutos por episódio, lançado pelo PROPAP (Programa de Orientação de Práticas Parentais), da UFRGS: https://instagram.com/criarcciencia?utm_medium=copy_link