Vivian Augustin Eichler (*)
No ano passado, a alegria contagiante com que recebemos a notícia sobre a nova sede misturava-se a uma certa apreensão nas rodas de conversa. A Projeto do casarão que parece ter saído de um desenho infantil perderia o encanto em frente ao Arroio Dilúvio? Como o habitat caloroso oferecido pelos tacões de madeira cobertos por piso emborrachado se transportaria para corredores revestidos de azulejos?
Em 2015, quando o Carlos e eu visitamos pela primeira vez a unidade da José Bonifácio em busca de vaga para o Santiago, nosso filho mais velho, confesso ter sentido uma estranheza com o ranger da escada estreita e as aberturas antigas emoldurando a entrada de luz. Nossa família havia percorrido até então escolas amplas e tradicionais em Porto Alegre, mas confiamos nos relatos de amigos e no brilho nos olhos da Neca enquanto falava sobre educação. Saímos de lá com a intuição de que aquele era mesmo um lugar especial.
A certeza de que havíamos feito a escolha certa veio com o passar dos anos. Reafirmava-se em pequenos detalhes do dia a dia, uma observação respeitosa, um comentário pertinente. Aprendemos com a escola e fomos apresentados a artistas, muita música boa e ótima literatura infantil. De alguma forma, tivemos a rara oportunidade de nos reeducarmos com o que não tivemos em nosso tempo.
Em 2022, chegada a vez de decidirmos se a Alícia seguiria os passos do mano, aqueles estalidos das tábuas despertaram a grata sensação de estar em casa. Com a experiência de pais de segunda viagem, a intuição se transformou em convicção. Lembramos de como o Santiago, certa vez, com seis anos de idade, traduziu seu processo suave de alfabetização:
– Lá cada um anda no seu próprio passo.
Creio estar aí a chave que realmente nos conecta à escola: respeito ao indivíduo e às suas possibilidades. O resto é consequência.
Agora, andando pelos novos corredores, sinto presente de muitas outras formas a velha casa e seu acolhimento sem pirotecnias. Sua presença simbólica está até mais visível, arrisco dizer. Descubro obras de arte antes escondidas, vejo mais cores, mais luz, mais terra e mais movimento. Registro que a Alícia também adorou ter “muitos banheiros” – cantinhos não menos importantes nas memórias de infância.
A poética do casarão habita o cuidado e o despertar de possibilidades. Vive e renova-se nas pessoas em seu novo espaço. Vida longa ao projeto da Projeto!
(*) Mãe da aluna Alícia, turma 22, do ex-aluno Santiago e jornalista.