Rubem Penz
Se há uma unanimidade entre as pessoas que pensam a veloz escalada da comunicação, umazinha só, ela diz que não existem dois mundos, menos ainda dois mundos separados: o real e o virtual. Portanto, não temos dois comportamentos esperados (um real, outro virtual), dois ambientes apartados (um real, outro virtual), duas éticas a serem seguidas (uma real, outra virtual). Dois sujeitos diferentes. É com a luz desta óbvia certeza, e muito interesse em comunicação, que ilumino um dos temas do momento: grupos de pais de alunos no WhatsApp.
Vamos começar pela boa notícia: toda escola almeja a participação da família na vida escolar – os famosos “pais presentes”. Vigilantes, interessados, prestativos, comprometidos, ciosos. Sempre próximos e abertos para uma troca de ideias construtiva – ou mesmo para uma crítica de igual caráter. Como nem todos têm disposição, tempo ou aptidão para contribuir com o ambiente escolar, as reuniões de pais e mestres jamais puderam ser muito frequentes, ou mesmo contar com presença garantida de todos. Basta uma colisão de horário para uma mãe ou um pai pular um encontro e ficar longos períodos sem saber das rotinas dos filhos em sala de aula. Portanto, um aplicativo que coloca os pais numa espécie de “reunião constante”, estejam aqui ou no Acre, deve ser muito festejado, né?
A resposta seria sim, com uma condição: estivessem todos realmente trocando ideias no grupo, e não apenas virtualmente – aqui no sentido de “potencialmente”. Por exemplo: numa reunião presencial, o que você pensaria de uma pessoa que, ao invés de prestar atenção no que está sendo dito – no momento em que está sendo dito –, fica com a atenção voltada para outras coisas e, de uma hora para outra, irrompe a opinar fora de contexto? Ou, sem mais nem menos, troca de assunto? Ou volta a questionar algo que já houvera sido esclarecido? Ou se mostra indelicada? Ou quer retornar para o tema às duas da madrugada? Tudo isso, que seria condenável ao vivo, acontece nos diversos grupos de WhatsApp (inclusive nos de pais). Estão todos potencialmente conversando, mas realmente dispersos.
E qual a conclusão a que cheguei pensando no tema? Arrisco uma: se antigos problemas podem ser resolvidos com novos meios, novos problemas também podem ser resolvidos com antigos meios. Exemplo: instituir um horário ou um dia (ou um dia e horário) para os componentes conversarem no grupo de pais, todos presentes de verdade, atentos, dispostos, comprometidos. Tempo (real) marcado para começar e para terminar. O que ficaria para os que estivessem ausentes seria uma ata por escrito (ou até falada). No encontro seguinte, se houver interesse, um dos faltantes poderá estar junto e disposto a contribuir. O tempo real e o espaço virtual casados, pois, como eu disse lá no início, não existem dois mundos. Há um, espero que sempre o melhor.