Rubem Penz
Uma obviedade – as melhores oportunidades para serem trabalhadas questões que envolvem regras e limites surgem no pátio da escola, durante os jogos recreativos. A razão é simples: não há viabilidade esportiva no ambiente laissez-fair. E toda limitação física, apenas por si, concorre para desfazer o mito da plenipotência. Frustração, superação, aceitação, cooperação… Conceitos que parecem simples, mas são complexos ou, ao contrário, parecem complexos e, no jogo, compreende-se com facilidade.
Pais que desejam ver seus filhos alcançarem níveis cada vez mais elevados de performance, sejam eles em qual atividade for, reconhecem na figura do professor de educação física um aliado valioso. O profissional capaz de extrair do outro um grau de engajamento superior até mesmo ao sofrimento inerente ao plano de chegar e permanecer na elite. É ele que mexe mais diretamente com o material humano, com nossa velocidade, força, precisão. Porém, com afetividade, empatia e generosidade. E será que é isso que se busca na escola?
Os embates lúdico-esportivos no âmbito da educação, com suas regras, não almejam a alta performance. O foco está dirigido para o aprimoramento psicomotor de cada um a seu modo e a seu tempo. Igualmente, trabalha-se o trato social: uma equipe acima de um indivíduo. Há regras que balizam a liberdade para, assim, valorizar o aprimoramento, a criatividade, a superação. E contingências a limitar o desejo – ou o plano – de vencer sempre, a todo custo. Ouso colocar sobre os ombros do “profe” de educação física a carga de ser o importante formador do caráter.
Sua atuação se contrapõe à crença de que tudo o que interfere ou limita a conveniência pessoal passa a ser visto como castração, mutilação, sofrimento. Dor. Importante desconstuir a fantasia de ser possível a tal plenipotência. Numa visão equivocada, da ausência de limites se espera a ascensão ao patamar máximo das expectativas. Acontece o exato contrário: no pátio, sob a intempérie da vida real e com a mediação segura de um adulto, nossos filhos treinam para cair e levantar; perder e vencer; lutar até o fim, mas nunca a qualquer preço.