Julio Cesar Walz (2 )
Acredito que a melhor orientação e educação que as famílias podem dar a suas crianças seja por meio da palavra e de um posicionamento claro como pais.
Quando falo em posicionamento, também estou me referindo ao tema do LIMITE.
As crianças precisam de limites. As crianças precisam de continência. As crianças precisam de cuidados. Mas dar limites não é o mesmo que castigar cegamente. Dar limites é dizer um NÃO, um basta, trazendo um novo reordenamento na situação ou mesmo a simples busca de esclarecimento. É um posicionamento de autoridade, que traz alternativas para a criança aprisionada em qualquer intensidade, cujo processo não lhe permite ver soluções a partir de si mesma. Alguém de fora deve favorecer o pensamento com o limite, que é uma espécie de parada à mensagem emitida ao infinito.
É interessante como esse assunto dos limites está sempre presente nas famílias e nas escolas e de como ele é fonte de dúvidas e ansiedades para os adultos. Trata-se de um dos maiores dilemas e desafios das famílias e das escolas em nossos dias. Quando estou dizendo NÃO, estou falando de atitude. Às vezes, observo, em parques e mesmo no consultório, alguns pais já aborrecidos com o filho, dizendo: “Filho, pára de fazer isso”. E a criança nem dá bola. “Pára, guri”, diz o pai. E a criança nem aí. “Oh filho, não faz isso. Tu sabes que é feio. Já te disse quantas vezes”. E a criança segue como se nada tivesse sido dito.
Lógico. Isso não é dar limite. É um NÃO fraco, desinteressado, sem autoridade. É um NÃO cheio de dúvida e talvez até de culpa. Se esse processo continuar, esse NÃO do pai e a criança que continua a desafiá-lo, o que acabará acontecendo?
Duas alternativas similares e opostas: ou o pai se enche de vez e agride a criança por meio de espancamento ou o pai diz: “É, tu não tem jeito mesmo, te digo as coisas e tu não aprende. Te larguei de mão”. Com essas atitudes o pai está dizendo ao filho a seguinte mensagem: Tu és muito poderoso. Eu só te dobro com agressão ou com indiferença.
Ambas as situações são dramáticas, mas absolutamente comuns nos lares. O grande desafio de uma mãe e um pai, apesar de toda a pressão do dia-a-dia e do que os filhos fazem para provocar ou testar seus limites, é saberem situar-se por meio da palavra que ordena e traz alternativas ao ambiente. E, às vezes, é necessário que se pare tudo para enxergar alternativas. Não é à toa que a frase “sob pressão não se deve decidir nada” é muito sábia.
Quando uma criança está pedindo limites, ela está dizendo: Adultos, eu não sei o que fazer. Deem-me uma orientação, um norte, um rumo. Isto exige um grande esforço dos pais, sem dúvida. Um pai e uma mãe devem saber que sua criança precisa de palavras. Ser cuidador é isto: dizer de novo, começar de novo, favorecer a alternativa. Paciência e ternura para ensinar novamente. A presença cuidadora é que ensina, orienta e torna a vida mais terna.
A agressão, ao contrário, não educa uma criança. Apenas aumenta a sua onipotência. E onipotência não significa coragem, mas, sim, o sentimento irreal de poder, força e capacidade de destruir o outro, no caso, os pais. Aliás, em quantas casas escutamos diariamente os pais dizerem ao seu filho ou à sua filha: “Tu me estraga a vida!”. Aqui temos uma casa sem alternativas e com desenvolvimento de um poder irreal. Uma casa sem limite. Nem para a criança e nem para os adultos que exageram ou criam um diagnóstico irreal.
(1) Trecho do livro Aprendendo a lidar com os medos – A arte de cuidar das crianças (páginas 96 a 99), o qual se encontra esgotado, na quarta edição, disponível somente em ebook/kindle: www.criandoconsciencia.com.br. Com autorização do autor, publicamos neste blog mais um trecho selecionado do livro. Outros trechos, focados nos temas dos medos infantis e da tarefa dos cuidadores de “construir pontes”, já foram publicados ao longo do ano de 2020 e podem ser encontrados neste blog.
(2) Pai de ex-alunos da Projeto, Psicólogo, Psicanalista, Doutor em Ciências Médicas/UFRGS – HCPA e autor do livro citado.