Cristine Zancani (*)
A cada começo de ano, crianças, mães e pais vivem a expectativa da nova professora. As professoras, por sinal, também vivem a expectativa das novas turmas (e falo com conhecimento de causa).
Com conhecimento de causa também posso dizer que a expectativa das mães e dos pais mora dentro da pergunta: “a professora é boa?” E essa pergunta tem sempre uma resposta complexa porque os professores são só uma parte do processo de ensino, que se faz junto com o aluno. Quero dizer com isso que dentro da classificação “bons professores” moram professores de diferentes personalidades – que fecham mais ou menos com a personalidade das crianças.
Tem criança que funciona melhor com professores mais exigentes, tem criança que funciona melhor com professores mais afetivos. É um encontro. O que é rico nesse processo é que, a cada mudança de professor, elas vão aprendendo a se relacionar com personalidades diferentes e vão adquirindo jogo de cintura para vida.
Já bem grandinha, certa vez, tendo problemas com um professor, outra professora me disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: ela me disse que tudo na vida é relação e que se a gente muda a forma como se relaciona com alguém, obriga esse alguém a mudar a forma com que se relaciona com a gente. Funcionou naquela ocasião (eu também era parte do problema), funciona na vida até hoje.
E cabe salientar aqui que, no caso que relatei, minha mudança de comportamento não foi me tornar mais dócil, mas exatamente o oposto: não me fragilizar – como eu vinha me fragilizando – com tudo que aquele professor fazia pra mim.
Nossos filhos vão começar um relacionamento do zero. Ele tem mais chance de ser feliz se a gente entender que competência e personalidade são coisas distintas e se a gente enxergar os filhos como parte do processo não só de ensino, mas também de relação, estimulando as mudanças que precisem ser feitas do lado deles.
O resto é diálogo – e bons professores estão abertos a ele.
(*) Cristine é mãe da Clara Zancani Fornasier, aluna da turma 32 da Projeto. Doutora em Teoria da Literatura pela PUCRS, atua em pesquisa sobre formação de leitores, sociologia da leitura e literatura infantil e juvenil, e ministra, como professora convidada, a cadeira de literatura infantil e juvenil no Curso de Especialização em Literatura Brasileira da PUCRS. Nas horas vagas, gosta de brincar com as palavras.
Ilustração: Christine Roussey