Deborah Vier Fischer(*)
Nos deparamos na escola, frequentemente, com perguntas e mudanças. Umas mais significativas e conceituais, outras menos. A chamada Mostra de Ciências, por exemplo, que há algum tempo é realizada na escola, este ano apresenta mudanças conceituais em relação à educação infantil. Não deixa de ser o momento em que as turmas apresentam às suas famílias e entre os(as) colegas algum estudo realizado, como no ensino fundamental, mas nessa etapa, em que as crianças são menores, entendemos que os saberes são percebidos de forma mais inteira e menos fragmentada, e assim também é mais adequado que sejam tratados.
Foi a partir de estudos realizados pela equipe pedagógica, considerando a ideia de campos de experiência, abordada e referendada pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que repensamos o nome do evento, passando a chamá-lo “Mostra de Estudos”. Mas não se alterou o nome, simplesmente. Essa mudança proposta pela Base na organização curricular implicou num deslocamento de enfoque dos estudos: o enfoque da escola, que antes se dava na perspectiva das áreas de conhecimento, passa a se voltar especialmente para as práticas que nascem da relação consigo e com o outro, na interação com o meio, com o mundo que rodeia as crianças e com as diversas possibilidades de exploração, a partir de proposições vindas de adultos e delas próprias, o qual está mais próximo do modo de pensar e de interagir com o conhecimento de alunos e alunas dessa etapa da escolaridade.
Assim, essas mostras de estudos – que acontecem duas vezes por ano para as turmas dos Grupos 3, 4 e 5 (crianças de 3 a 5 anos) e uma ver por ano para as turmas dos Grupos 1 e 2 (crianças de 1 e 2 anos) – reúnem um tanto de pensamentos, descobertas e experimentações que emergem do que foi proporcionado às crianças, fruto também da observação atenta do(a) docente, mediador e participante dos percursos e trajetórias construídas.
E quando as famílias chegam à escola para a Mostra de Estudos, como são recebidas? O que veem? Crianças aguardando para contar, mostrar, compartilhar o que aprenderam, convidando todos e todas para se inserirem no seu mundo de descobertas. Assim, participando de cada etapa da elaboração da mostra, perguntando sobre o que ainda não sabem e buscando formas de comunicar o que descobriram, envolvem suas famílias em um universo que perpassa mundos – social, afetivo, científico, literário, artístico e filosófico -, sem jamais deixar de ser lúdico. E isso se dá sem stress, sem nervosismo, sem exposição forçada de crianças diante dos adultos, porque é feito com as crianças, pelas crianças e para as crianças e para as pessoas que compartilham com elas deste tempo tão incrível que é a infância e a etapa da educação infantil.
O sorriso no rosto das crianças, a alegria das professoras, a leveza e a cumplicidade em mostrar o que sabem, em arrumar os espaços da sala de aula e da escola, preparando-se para receber as “visitas” (pais, mães, irmãos e irmãs, avôs e avós, tios e tias, primos e primas), por vezes, não cabe em palavras. No entanto, algumas crianças do Grupo 3, envolvidas em preparar a Mostra de Estudos sobre brinquedos e brincadeiras de antigamente – leia-se “antigamente” como “tempo dos avôs e avós”, o que, na perspectiva das crianças, é uma distância considerável -, buscam fazer o
exercício de narrar essa experiência:
– Hoje vem na escola a família de nós – diz Gabriela, 4 anos. E completa: – Vem muita gente. Eles vêm ver os estudos que fizemos sobre várias coisas de antigamente. Minhas duas avós vieram ensinar brincadeiras para a gente e hoje vai ser legal, porque nós vamos ensinar para todo mundo que vier as brincadeiras que a gente aprendeu com elas.
Estela, de 3 anos, reitera:
– É, é verdade, minha vovó Luísa também vem na escola hoje. Ela já tinha vindo, nos ensinou a brincar de Cabra-cega. Hoje ela vem de novo para ver a gente brincando junto. Vem também meu pai, minha mãe e minha irmã.
E Bernardo, 3 anos, finaliza a conversa, pois a turma estava muito envolvida com a organização da sua mostra, havia muitas coisas para serem resolvidas coletivamente:
– Nós vamos combinar as regras dos jogos com quem vier e vamos nos divertir muito! Cada turma, então, se organiza para apresentar seus estudos. O Grupo 3 mostra jogos de rua, cirandas e cantorias. O Grupo 4, cuidados com o meio ambiente, em situações de reaproveitamento de materiais e atenção à redução de resíduos secos, a partir do que vivenciam na escola e fora dela.
Um estudo sobre o supermercado e a feira orgânica, e a relação com a alimentação e com o consumo é trazida pelo Grupo 4/5. E o Grupo 5 mostra o estudo dos arredores da escola, identificando os limites geográficos e o que faz fronteira com esse espaço visitado e vivido pelas crianças diariamente.
E assim finalizamos o primeiro semestre da escola infantil de modo festivo, já pensando e apostando no próximo, que trará novas mostras, com outros saberes sendo colocados em relação. Em dezembro, também as crianças dos Grupos 1 e 2 receberão seus convidados e convidadas para a sua “Mostra de Estudos”.
Aguardemos.
(*) Coordenadora da escola.